A psicologia a serviço do outro.

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A psicologia a serviço do outro. by Mind Map: A psicologia a serviço do outro.

1. E devido o fato de não encontrarmos um objeto único de estudo na Psicologia, soma-se a constatação de que produzimos com os nossos discursos sujeitos diferenciados, assim, cada abordagem cria seu próprio sujeito-objeto.

2. Cada teorização psicológica corresponde uma intervenção prática específica, seja porque essa intervenção se constitui na mera aplicação de uma teoria, seja porque muitas teorias nasceram de uma prática específica (como a maior parte das teorias de personalidade, que surgiram da clínica psicológica, psiquiátrica ou psicanalítica).

3. Aquele que procura o serviço de psicologia é um outro em relação ao profissional em primeiro lugar.

4. Essa imagem da Ética enquanto habitação (Heidegger e Lévinas), que diz respeito à casa que cada um de nós precisa erguer para si mesmo no mundo, se presta também à analogia com o serviço de psicologia.

5. Morada temporária, eu diria, enquanto o cliente (re)constrói sua própria habitação. Hospitalidade oferecida ao habitante de um mundo inóspito. Isso tem a ver, de fato, com a busca de qualidade de vida. Com a necessidade de se estar bem, de gozar “uma vida boa, com e para os outros, em instituições justas”.

6. Estar a serviço do outro que nos procura para poder assisti-lo em seu devir-outro e escutar sua alteridade, principalmente naquilo que o fará buscar qualidade de vida para si e para os outros. Quando o outro nos procura, nada melhor que a resposta (originariamente dada à visitação do Outro, em Lévinas) “eis-me aqui”.

7. A alteridade está presente de variadas formas nessa relação possível entre o profissional que se oferece e o cliente que o procura. O profissional precisa estar consciente do quanto o outro – o cliente, no caso –, em sua diferença e exigência, o afirma e confirma. É preciso dispor a escuta para esse outro de forma a poder responder a ele, ao seu sofrimento (nudez e miséria em Lévinas).

8. Noção errada: a Psicologia se propõe a ser um estudo científico do comportamento humano (e animal, para alguns) que se situaria a meio caminho entre o conhecimento biológico e o conhecimento dos processos sociais.

9. As psicologias, no plural, são como distintas formas de tratar a subjetividade e que, ao fazê-lo, por sua vez, constroem diferentes subjetividades.

10. Os serviços de Psicologia devem se constituir como modos de estar a serviço do Outro.

11. Toda prática psicológica subjaz um modelo ético específico sujeito às injunções da própria teorização a que se coaduna; uma “ética” particular – a ética do trabalho psicológico – se coloca no lugar de rectora de toda e qualquer atuação profissional.

12. O cliente, por sua vez, detém um outro em si mesmo, mas também interage com outros específicos em sua família, em seu trabalho, na vida em geral.

13. Estar a serviço do outro, portanto, é o que se espera de quem trabalha em um “serviço de psicologia”. Oferecer um lugar para o outro – lugar este que desde sempre já seria dele –, abrindo portas e janelas para sua visitação, oferecendo o melhor cômodo e a melhor comida, garantindo-lhe um espaço de habitabilidade, ou seja, um ethos, uma morada confiada e serena onde ele possa renovar-se para retomar suas dores no mundo e propiciar qualidade de vida.

14. A qualidade de vida seria uma dimensão da cidadania, questão dos direitos democráticos.

15. A qualidade de vida no atendimento psicológico, significa propiciar condições para que irrompa na pessoa sua própria diferença, seu outro, seu estranho. Disso as psicologias não têm se ocupado muito, preocupadas que estão em reafirmar a identidade de um eu indivisível e autoconsciente. Significa, também, possibilitar o encontro da pessoa com os outros e suas diferenças, com o estrangeiro, com a exterioridade que exige a produção de diferenças.