1. Cirurgias potencialmente contaminadas
1.1. Cirurgia oftalmológica
1.1.1. Microorganismos prevalentes: estreptococos, estafilococos, pneumococos, P. aeruginosa, P. mirabilis e raramente fungos
1.1.2. Profilaxia controversa: povidona-iodo a 5%, uso tópico de colírios (gramicidina, neomicina, bacitracina, polimixina e framicetina, em associações, ou o cloranfenicol)
1.1.2.1. A aplicação deve ser feita durante o ato cirúrgico, com gotejamento a cada 5 a 10min
1.2. Cirurgia esôfago, estômago e duodeno
1.2.1. Microorganismos prevalentes: cocos gram positivos e anaeróbios
1.2.2. Obstrução esofagiana: cefalosporina da primeira geração (cefalotina ou cefazolina), ou clindamicina
1.2.3. Cirurgia gastroduodenal, uso de ATB se: acloridria, hemorragias, obstrução e uso terapêutico continuado de ranitidina ou outro antiácido
1.2.3.1. ATB recomendado: cefazolina/cefalotina, dose inicial de 2g e mais uma ou duas doses de 1g, a 1ª dose instituída ao início da cirurgia.
1.2.4. Cirurgia digestória alta: uso de cefalosporinas de 2ª e 3ª gerações não são superiores as de 1ª.
1.3. Cirurgia de vesícula biliar
1.3.1. Uso de ATB em: > 60 anos, ou que sejam diabéticos, icterícia obstrutiva ou cálculos biliares em colédoco, cirurgia prévia no trato biliar, episódio agudo de colecistite até um mês antes da operação
1.3.2. Microorganismos prevalentes: E. coli, Klebsiella
1.3.3. ATB recomendado: administração isolada de cefazolina, 2 g ou 2 g de ampicilina + 80 mg de gentamicina, dose única, 30 minutos antes da cirurgia.
1.3.3.1. Se no ato operatório: colecistite ou colangite aguda, associar o cloranfenicol, o metronidazol ou a clindamicina ao esquema anterior
1.3.3.2. Esquema alternativo: cefotaxima, 1 g, dose única durante a indução anestésica
1.3.3.2.1. Alguns autores recomendam 2ª dose se, > 2hrs.
1.4. Prostatectomia e cirurgias da uretra
1.4.1. Prostatectomia suprapúbica: não está indicada a profilaxia
1.4.2. Prostatectomia transuretrais: uso controvertido. ATB recomendado: uso IV, cefalotina, gentamicina, cefoxitina, ou sulbactam + ampicilina.
1.4.2.1. Uso oral: fluoquinolonas, dose única, pré operatório
1.4.3. Na presença de infecção urinária: devem receber antibiótico, antes, durante e após a cirurgia. ATB deve ser escolhido com base na urocultura.
2. Cirurgias Infectadas
2.1. Presença de supuração, intervalo > 6 hrs, sujeira no local
2.1.1. ATB recomendado: cefalotina/cefazolina, IV, ou cefalexina/cefadroxil, VO por tempo variável de 1 a 5 dias, de acordo com as características do caso
2.1.1.1. Terapia alternativa: ciprofloxacino e o pefloxacino são alternativas igualmente eficazes
2.2. Feridas com perfuração de alças intestinais: droga ativa contra enterobactérias (gentamicina, tobramicina, ceftriaxona, cefalotina) associada a um antibiótico com ação contra anaeróbios intestinais (clindamicina, metronidazol)
2.3. Queimaduras
2.3.1. Não se prescrevem antibióticos profiláticos sistêmicos ou tópicos, mas indica-se a terapêutica antimicrobiana se ocorrer infecção pulmonar, urinária ou sistêmica.
2.3.2. ATB recomendado: tópico, sulfadiazina-prata e na ausência - nitrato de prata a 0,5% ou o acetato de mafenide
2.4. Procedimentos instrumentais diagnósticos e terapêuticos
2.4.1. colangiografia endoscópica/colangiopacreatografia endoscópica retrógrada = risco de infecções por gram negativos
2.4.1.1. ATB recomendado: cefalotina/cefazolina IV, dose única ou piperacilina/tazobactam, imediatamente antes do procedimento
2.4.2. Gastrostomia endoscópica percutânea
2.4.2.1. ATB recomendado: uma dose de cefazolina administrada 30 minutos antes do procedimento, para redução de infecção
2.4.3. Biopsia prostática transretal
2.4.3.1. Microorganismos prevalentes: bacilos gram-negativos
2.4.3.2. ATB recomendado: cefalosporinas ou fluoroquinolonas sistêmicas, dose única, 1 hr antes do procedimento
2.4.4. Profilaxia contra endocardite: pacientes que apresentam lesões orovalvulares ou próteses cardíacas ou arteriais
2.5. Parto vaginal
2.5.1. No geral não há indicação de realizar profilaxia
2.6. Pancreatite aguda
2.6.1. Microorganismos prevalentes: bacilos gram negativos entéricos
2.6.2. ATB recomendado: ciprofloxacino, o ofloxacino, o metronidazol e o imipeném.
2.6.2.1. Ciprofloxacino + metronidazol: não reduz necrose pancreática
2.7. Cirurgia Oncológica
2.7.1. ATB recomendado: cefazolina nos casos de cirurgia torácica, dermatológica, cardíaca e neurológicas + metronidazol nas intervenções do tubo digestório e genitais feminina.
2.7.2. Cabeça e pescoço: cefazolina e clindamicina, ou amicacina e clindamicina ou monoterapia com ampicilina/sulbactam
3. Cirurgias Limpas (eletiva)
3.1. Cirurgia Cardiovascular
3.1.1. Microorganismos prevalentes: S. aureus, S. epidermidis
3.1.2. ATB recomendado: Cefalosporinas de 1ª geração, IV; 1. Cefalotina: dose inicial 2g, seguido de 1g a cada 2hrs por 24 a 48hrs. 2. Cefazolina: dose inicial 2g, seguido de 1g a cada 4hrs.
3.1.2.1. Em caso de suspeita de resistência/alergia à beta-lactâmicos: 1. Vancomicina, IV, 10 a 15mg/kg (dose inicial na indução anestésica), seguido o uso a cada 4hrs no peroperatório e a cada 8hrs no pós operatório, por 48hrs.
3.2. Cirurgia Ortopédica
3.2.1. Profilaxia deve ser feita quando houver inserção de próteses ou materiais.
3.2.2. Microorganismos prevalentes: estafilococos e estreptococos anaeróbicos e aeróbicos
3.2.3. ATB recomendado: Cefalosporinas de 1ª geração, IV; 1. Cefalotina: dose inicial 2g, seguido de 1g a cada 2hrs por 24 a 48hrs. 2. Cefazolina: dose inicial 2g, seguido de 1g a cada 4hrs.
3.2.3.1. Outras opções terapêuticas: 1. Amoxacilina + Ácido Clavulânico, IV, 2g. Em caso de suspeita de resistência/alergia à beta-lactâmicos: 1. Vancomicina, IV, 10 a 15mg/kg (dose inicial na indução anestésica), seguido o uso a cada 4hrs no peroperatório e a cada 8hrs no pós operatório, por 48hrs.
3.2.3.1.1. Clindamicina pode ser utilizado em casos de alergia, assim como a Vancomicina.
3.3. Neurocirurgia
3.3.1. Profilaxia em caso de: cirurgia > 6hrs, craniotomia exploradora, implantação de próteses, reoperação e perfuração de seios paranasais
3.3.2. Microorganismos prevalentes: estafilococos
3.3.3. ATB recomendados: cefalotina, cefazolina, ceftriaxona, oxacilina, clindamicina. Ampicilina/Sulbactam vem sendo ponderada.
3.3.3.1. Em caso de fístula liquórica: 1. Cefazolina, 1g, IV, no momento da insição (opção terapêutica).
3.3.3.2. 1ª dose: no início da anestesia. 2ª dose de ser administrada caso a cirurgia dure > 6hrs.
3.3.3.3. Uso de próteses de silicone: imergir em solução de bacitracina A (50.000 U em 250ml) ou gentamicina - S. epidermidis
3.4. Cirurgia Plástica:
3.4.1. Profilaxia em caso de: extensa dissecção com circulação deficiente, enxertos em lesões abertas.
3.4.2. Microorganismos prevalentes: estafilococos e Proteus
3.4.3. ATB recomendado: cefalosporinas de 1ª geração (cefalotina, cefazolina, IV, na indução anestésica).
3.4.3.1. 2ª dose: cirurgia > meia vida da droga
3.4.3.2. Mastectomia: cefalosporina (2 g de cefazolina) está indicado ao início da cirurgia.
3.4.3.3. Fissuras labiopalatinas: 100.000 U/kg de penicilina G cristalina, por via IV, ao início da cirurgia.
3.5. Cirurgia ginecológica por via abdominal
3.5.1. Uso controverso
3.5.2. Histerossalpingografia e inserção de DIU: doxaciclina, 200mg, antes do procedimento.
3.5.3. Mastectomias: dose única, 2 g de cefazolina ou cefalotina na indução anestésica.
3.5.4. Na cesarea: ruptura amniotica > 6hrs,trabalho de parto > 12hrs, se dilatação de colo uterino; 1ª cesarea (especialmente baixo nível socioeconômico), parturiente com diabetes melito descompensado, toxemia gravídica, anemia ou obesidade.
3.5.5. Microorganismos prevalentes: estafilococos, E. coli, Proteus, B. fragilis
3.5.6. ATB recomendado: cefalotina/cefalexina, dose única, 2g, início da cirurgia ou após o clampamento do cordão umbilical
3.5.6.1. Em caso de alergia ao ATB: 1. clindamicina, na dose de 600 mg IV, a 80 mg; 2. gentamicina por via IM, antes e 8 horas após a cesariana.
3.6. Cirurgia pulmonar
3.6.1. Uso controverso, mas em alguns casos: 1. cefalozina, 2g, dose única.
3.7. Transplante de órgãos
3.7.1. Microorganismos prevalentes: CMV
3.7.1.1. Ganciclovir sendo superior ao Aciclovir: na dose, 5mg/kg, a cada 12 horas, por via IV, iniciando no dia do transplante e mantido nesta dose durante duas semanas.
3.7.1.1.1. Uso oral: 1. Valganciclovir, 450 mg de 12/12 horas, mantida por período não inferior a três meses
3.7.2. Microorganismos prevalentes: P. Jirovenci, T. gondii
3.7.2.1. Transplantes cardíacos: nistatina (500.000 U de 6/6 horas) ou o cetoconazol, por 2 meses
3.7.2.2. P. jirovenci: sulfametoxazol + trimetoprima na dose profilática, pelo menos 6 meses após o transplante.
3.7.3. Transplante de fígado: 1. ampicilina + sulbactam, 48hrs após o procedimento (3 g IV, 6/6 hrs) ou cefotaxima (1 g IV de 6/6 hrs) + amoxicilina/clavulanato (1 g IV, de 8/8 hrs), iniciadas 30 a 60 minutos antes da cirurgia e mantidas por 24 a 48 hrs
3.7.3.1. Alergia à penicilina: ciprofloxacino (400 mg IV, 12/12hrs) associada + metronidazol (500 mg IV, 8/8 hrs).
3.7.3.2. Terapia antifúngica: fluconazol, 50 mg/dia.
3.7.4. Transplantes cardíaco e pulmonar: cefazolina ou a cefuroxima, IV, em doses plenas, iniciada na indução anestésica e mantida por 48 hrs.
4. Cirurgias contaminadas
4.1. Histerectomia por via vaginal
4.1.1. Microorganismos prevalentes: enterobactérias, anaeróbios, incluindo o B. fragilis, enterococos e estafilococos.
4.1.2. ATB recomendado: cefalotina/cefazolina, 2 g, IV
4.1.2.1. Se escolha de cefalotina: repetir a dose a cada hora até o final da cirurgia. Se uso da cefazolina, nova dose se > 3 hrs.
4.1.2.1.1. Se alérgicos a beta-lactâmicos: 1. doxicicilina 100mg, VO, 8 a 10 hrs antes da cirurgia, e nova dose de 100 mg, 3 ou 4 hrs antes do início da cirurgia.
4.2. Cirurgias otorrinolaringológicas de cabeça e pescoço
4.2.1. Microorganismos prevalentes: estreptococos, estafilococos e anaeróbios da boca, eventualmente P. aeruginosa e enterobactérias
4.2.2. ATB recomendado: cefalotina/cefazolina, isoladamente, ou ampicilina + amoxacilina, iniciadas junto com a indução anestésica e mantidos por 24 hrs.
4.2.3. Cirurgias de fissuras labiopalatinas: dose penicilina G cristalina (como citado no item cirurgia plástica).
4.2.4. Cirurgias de ouvido sem secreções, não está indicada profilaxia.
4.2.4.1. Nas cirurgias infectadas o uso é controverso, mas recomenda-se o uso de cefazolina e à cefuroxima
4.2.5. Nas cirurgias de cabeça e pescoço é recomendado em cirurgias como câncer, com acesso pela mucosa da boca e faringe.
4.2.5.1. Microorganismos prevalentes: estafilococos dourados e os anaeróbios da microbiota oral.
4.2.5.2. ATB recomendado: cefalozina/cefoxitina, 2 g. Clindamicina, 900 mg, proporciona resultados similares.
4.2.5.2.1. As drogas são administradas no pré-operatório imediato, podendo ser repetidas em mais 2 doses nas primeiras 24 hrs.
4.2.5.3. Em cirurgias extensas: amoxicilina + ácido clavulânico, ou ampicilina + sulbactam, em doses habituais administradas na indução anestésica, em dose única ou em mais uma ou duas tomadas
4.3. Cirurgias de íleo, colo e reto
4.3.1. O risco de infecção é > 70% = profilaxia mandatória
4.3.1.1. Microorganismos relacionados: gram-negativa e aos anaeróbios, com ênfase sobre o B. fragilis
4.3.1.1.1. ATB recomedado: gentamicina ou tobramicina + cloranfenicol ou o metronidazol ou a clindamicina.
4.3.2. Cirurgia eletiva de colo: limpeza mecânica manitol à 10% + atb parenteral
4.4. Apendicectomia
4.4.1. 1ª dose: indução anestésica; as doses serão ou não mantidas de acordo com o apêndice
4.4.1.1. No caso de apêndice perfurado: 1ª dose na indução + uso por 4 a 5 dias.
4.4.2. Microorganismos prevalentes: enterobactérias e a B. fragilis
4.4.3. ATB recomendado: uso isolado da cefoxitina, do ertapeném, da amoxicilina/clavulanato e do sulbactam/ampicilina, ou associação de clindamicina ou cloranfenicol ou metronidazol a um aminoglicosídeo (gentamicina) ou a uma cefalosporina da 1ª, via IV.
4.5. Traumatismos recentes
4.5.1. Em até 6 hrs do ocorrido, profilaxia nos seguintes casos: lesões extensas com tecido desvitalizado; feridas puntiformes profundas e penetrantes, de difícil desbridamento; feridas afetando tendões; feridas que atingem articulações, cavidade torácica ou abdominal e cérebro.
4.5.2. Trauma penetrante do tórax: cefalosporina, dose única
4.5.3. Traumatismos abdominais sem lesão intestinal: clindamicina ou a cefoxitina, dose única
4.5.4. Traumas pele/tecido subcutâneo, microorganismos relacionados: estreptococos, cocos anaeróbios, clostrídios, estafilococos e enterobactérias
4.5.4.1. Pequenos ferimentos não existe recomendação de profilaxia.
4.5.4.2. Feridas puntiformes profundas e nas pouco extensas: cefalosporina de 1ª da geração, VO, (cefalexina, cefadroxil) ou parenteral (cefalotina, cefazolina), mantido 2 a 3 dias de acordo com a gravidade.
4.5.4.2.1. Em caso de alergia: tetraciclinas ou a clindamicina.