Um olhar diferente (1)

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Um olhar diferente (1) por Mind Map: Um olhar diferente (1)

1. o olhar de admiração do filósofo é parecido com o olhar infantil: não se trata de uma visão de raios X, capaz de penetrar os mais sólidos obstáculos, mas de um olhar espontâneo e irreverente. O modo infantil de olhar está apto a enxergar o que todos podem ver, mas não conseguem por causa do hábito, do medo ou da preguiça. Infelizmente o olhar de admiração está em processo de extinção - deixamos de nos surpreender com a morte e a violência, algo que antes era inimaginável e absurdo.

2. Todavia, a admiração presente no ver filosófico é voltada principalmente para as coisas que tomamos por habituais e com as quais estamos familiarizados. Existem na vida cotidiana diversas situações assustadoras e maravilhosas que provocam a sensação de que as coisas talvez pudessem ser de outra maneira. Então surge a pergunta "Por quê?". Por exemplo: por que o homem tem que morrer? Ou por que temos tanto prazer vendo um filme ou ouvindo uma música? Ou, ainda, por que é ao mesmo tempo tão importante e às vezes tão difícil conviver com outras pessoas? Tais questões surgem quando nos sentimos desconfortáveis na realidade, mesmo que ela pareça óbvia e evidente para os outros.

3. o olhar filosófico também é diferente porque envolve a capacidade de sentir admiração. Aristóteles diz na metafisica: "O homens que é tomado da perplexidade e admiração julga-se ignorante" (Metafisica, 982 b 13-18). Não se trata de ter admiração por algo ou alguém, mas de admirar-se com o próprio mundo.

4. Por que a filosofia é uma forma diferente de ver o mundo? Em primeiro lugar porque é um olhar que pressupõe distanciamento. A excessiva proximidade de um objeto pode interferir na nossa compreensão sobre ele. Um passo para trás pode nos ajudar a ganhar uma perspectiva mais ampla. Agora imagine que a realidade é como uma parede contra a qual nossa face está colada. Tão próximas assim, torna-se difícil apreender o tamanho, extensão, espessura ou até mesmo a cor dessa parede. Olhar filosoficamente a realidade implica um certo afastamento dessa parede que está diante e em torno de nós. Infelizmente, porém, na perspectiva de quem continua com seu rosto colado na parede do real, aquele que se distancia parece ter perdido sua conexão com o mundo, soando e agindo como se fosse louco. Ao contrário, trata-se aí de um afastamento que visa a uma perspectiva mais rica e profunda da realidade. Uma das diferenças entre a loucura e a filosofia consiste justamente no fato de que a primeira é um estado de permanente desvinculação do real, ao passo que a segunda promove apenas um distanciamento provisório e estratégico.

5. IMAGEM DO FILÓSOFO

5.1. Quando lembramos da filosofo nos vem a mente a imagem de uma pessoa mais idosa, pois a velhice esta relacionada com a maturidade e a sabedoria. Depois pensamos em alguém solitário já que supostamente pensar seria uma atividade que pressupõe um certo isolamento. Trata-se também de um ser frágil que pensa ate doente. Nesse ponto há um ciclo vicioso: parece que o filósofo não precisa do corpo para pensar e, inversamente, porque ele pensa muito, seu corpo acaba definhando, por absoluta falta de uso. O filósofo não praticaria esportes, nem gostaria de dançar. Sendo um homem doente do corpo, talvez seja também doente das idéias, um pouco louco.

5.1.1. Com esse pensamento parece que um filósofo vive em outro planeta.

5.1.2. Ainda que a imagem da filosofia começou a se modernizar no século XX. Continua sendo uma atividade predominante por homens mas conforme o passar dos anos a figura feminina é adicionada cada vez mais.

5.2. Mas esse preconceito ocorre desde o primórdio da filosofia exemplo Tales de Mileto, costumava caminhar a noite para ninguém perceber que ele estava filosofando, sobre o universo que caio em um buraco, sofrendo diversas colisões. Como se a filosofia fosse um jeito de enxergar o mundo de uma forma errada.

6. ARTE DE CIAR CONCEITOS

6.1. Entre as vantagens de se estudar filosofia pode-se mencionar a habilidade de_pensar logicamente; de analisar e resolver problemas; de falar e escrever claramente de expressar melhor as questões: de persuadir e de pesquisar; de conhecer a si próprio.

6.2. A filosofia não produz nenhum benefício imediato, não serve para construir casas, barcos ou remédios, não torna a vida mais fácil. Parece, portanto, ser inútil. Entretanto, nem tudo que parece ser inútil é desnecessário. A arte, por exemplo, também não tem diretamente nenhuma função. Por outro lado, o que pode haver de mais valioso na vida do que a arte, mesmo sem nenhuma utilidade concreta?

6.3. A filosofia tem em comum com a arte a característica de não gerar conhecimentos ou objetos capazes de favorecer imediatamente os interesses humanos. A importância da filosofia e da arte é indireta, quase imperceptível trata-se de modificar nosso olhar sobre o real, aprendendo a reconhecer que as não foram antes do mesmo jeito que são agora e não precisam continuar ser tal como têm sido até então. A filosofia e a arte desconfiam do mundo tal como o conhecemos, preparando o terreno para a construção de outros mundos.

7. UM OLHAR DIFERENTE

8. PENSAR E VIAJAR

8.1. Fazer filosofia é como viajar sem sair do lugar, um movimento subterrâneo e imperceptível do corpo. Não se trata de uma "viagem interior", mas de uma nomadização das relações com o mundo, no sentido de viver como um nômade, sem território.

8.2. Trata-se de um mergulho admirado na alteridade. Viajar é, além disso, permitir que a força inesperada nos arrebata. Quando viajamos abandonamos provisoriamente a segurança de nossas casas e a identidade garantida por nossas prosperidades, nosso trabalho e nossa rede de amizades. As viagens ajudam a relativizar as verdades e fazem circular as ideias. Viajante e filósofo se assemelham na atitude: ambos se desembaraçam da rotina diária de trabalho e diversão e se deixam levar pela atmosfera de admiração pelo mundo. A diferença sutil, mas clara, é que o viajante tende a se surpreender com os aspectos mais inusitados dos lugares que percorre, ao passo que o filósofo se espanta principalmente com os acontecimentos tidos por banais e evidentes à sua volta.

9. A crise pode ser um estado de incerteza ou uma oportunidade de mudança e de transformação. A maioria dos filósofos hesitou em assumir o caráter amoroso do pensamento, noção de amor, irracionalidade, passividade ou descontrole de si.

10. MORA NA FILOSOFIA

10.1. O que é filosofia?

10.1.1. Não é uma pergunta fácil. Boa parte das obras de filósofos é dedicada a responder essa pergunta, e cada um tem uma interpretação diferente.

10.1.1.1. Portanto o termo exige um certo cuidado, o filosofo não é um sábio-aquele que se sente cheio de sabedoria- mas sim alguém que esta sempre a procura do conhecimento.

10.2. O objetivo do livro é mostrar oque esta em jogo quando fazemos filosofia. A primeira indicação vem da etimologia o estudo da origem e da evolução das palavras.

10.3. Pitágoras teria sido o primeiro a usar a palavra filosofia. Na época mais arcaica (V_IV a.C) o termo sophia designava um tipo de saber que incluía conotações mais praticas, ligado ao artesanato como ao comportamento ético. Conforme o passar dos anos ganhou um aspecto mais teórico, ligando a atividade intelectual e abstrato.

10.4. Pouco se sabe sobre a vida e obra de Pitágoras, que não deixou nenhum documento escrito. Seus principais interesses eram a matemática, a astronomia e a música. Diógenes Laertius autor da mais antiga história da filosofia ainda preservada, fez o seguinte comentário sobre o pensador: "Pitágoras comparava a vida com uma festa, em que alguns vão para competir pelos prêmios, outros comparecem para fazer negócios, mas os melhores vão como observadores. Os primeiros revelam-se como almas escravas, ávidas de fama ou lucro, enquanto os últimos se apresentam como amantes da sabedoria [filósofos]"

10.4.1. Aristóteles,filósofo grego (384-322 a.c.), afirma na sua obra Metafísica que o conhecimento se dá através das causas. Segundo sua teoria existem quatro tipos de causas. "-Causa eficiente: aquilo ou aquele que tornou possível o objeto (se o objeto for uma casa,por exemplo, o arquiteto ou o pedreiro). -Causa formal: um objeto se define pela sua forma (uma casa é determinada pelo seu projeto ou planta). -Caus afinal: A finalidade do objeto (a casadeve proteger seus habitantes). -Causa material: a matéria na qual consiste o objeto (tijolos, areia,cimento etc."

11. DISPOSIÇÃO PARA A VERTIGEM

11.1. A filosofia não é um conjunto de conhecimentos ou de doutrinas, mas uma atitude ou posicionamento perante a vida.

11.2. Qualquer um pode filosofar, não é necessário possuir talentos intelectuais extraordinários ou possuir muitos conhecimentos, nem mesmo ter uma formação escolar. Basta ter disposição para ver de outro jeito do que a pessoa tem ao seu redor. Embora qualquer um possa filosofar a grande maioria desconhece ou evita a filosofia. Existe mais MISÓSOFOS(do grego MISÉO=odiar detesta) ou seja que tem aversão à sabedoria, do que filósofos. Por que? Não há uma rasão unica, pode ser uma forma de amar, a filosofia não é uma atividade intelectual como se imagina normalmente. Mas envolve também nossa capacidade de sentir, de nos emocionar, de sermos tomados por afeto. Como é possível aprender um sentimento? Uma das dificuldades para quem quer estudar filosofia consiste justamente no fato de que independentemente da vontade de sentir o "amor ao saber". Um do afeto tais como o amor, o ódio, a alegria ou a tristeza, são sentimentos que nós temos e nos determinam a fazer atos contra a nossa vontade. Como é impossível agendar o amor embora com algum esforço seja possível recusa-lo, também não basta apenas querer o pensamento, é preciso também deixar se levar por ele. Uma outra razão para a desconfiança em relação à filosofia é que pensar envolve perigos. Sabemos que a indagação filosófica pode gerar instabilidade. Às vezes tudo parece estar bem e estamos satisfeitos com nossa vida, então somos defrontados com questões complexas, aparentemente sem solução, e entramos em crise.

12. A FILOSOFIA COMO PENSAMENTO CONCRETO

12.1. Em geral a filosofia é descartada por ser um pensamento abstrato. Mas não será todo pensamento em si mesmo abstrato? Na acepção geral essa expressão designa um raciocínio que opera apenas no âmbito das idéias, sem relação com o mundo material e sensível. Trata-se de uma compreensão empobrecida do termo "abstrato".

12.2. O pensamento abstrato reduz um fenômeno a uma de suas partes, fixando-o apenas segundo uma de suas características. No século XIX, por exemplo, estiveram em voga a fisionomia (técnica de determinar o caráter de uma pessoa pelos traços do rosto) e a fenologia (doutrina segundo a qual o comportamento poderia ser adivinhado através da configuração externa do crânio humana). No ensaio Quem Pensa Abstratamente? De 1807, Hegel sugere que pensar abstratamente é simplificar, partir fixar o objeto de reflexão. Qualquer um, seja rico ou pobre, culto ou sem instrução, comandante ou soldado, pode incorrer nesse erro de avaliação. Um exemplo comum do pensamento abstrato para Hegel é "ver em um assassino somente o fato abstrato de que ele é um assassino e através desta simples qualidade anular toda a essência humana ainda remanescente nele" (op. cit., p. 237). Tratar um criminoso apenas como criminoso, sem considerar sua história familiar, suas condições sociais ou as circunstâncias de exclusão, é parcial e injusto. A filosofia, ao contrário, pretende atuar como um pensamento concreto (do latim concrescere=crescer, desenvolver), na medida em que busca denunciar as interpretações parciais e imobilizante, reconhecendo e regatando a variedade de perspectivas do real.