Aura de enxaqueca

Começar. É Gratuito
ou inscrever-se com seu endereço de e-mail
Aura de enxaqueca por Mind Map: Aura de enxaqueca

1. Introdução

1.1. Afetam 10% da população

1.2. Observados desde o séc. II

1.3. Muito descritos nos séc. XVIII e XIX

1.4. Para Airy elas eram uma fotografia de alguma estrutura fixa do cérebro

1.4.1. Hubert Airy foi um dos primeiros a descrever a aura visual comum e também cunhou o termo scotoma cintilante para ele.

1.5. Para Herschel elas refletiam algum mecanismo organizador e geometrizante do funcionamento cerebral

2. Constantes alucinatórias

2.1. A partir de casos de alucinações por intoxicação por mescal, Kluver, definiu certas constantes de forma sensoriais

2.1.1. Padrão gradeado/Treliça/Favo de mel/Tabuleiro de xadrez/Teia de aranha

2.1.2. Túnel/Funil/Corredor/Cone/Vaso

2.1.3. Espiral

2.1.4. Elas podem ocorrem nas esfera visual e háptica

2.1.5. Esses tipos de alucinações podem ocorrer diversas situações, além da enxaqueca

2.1.5.1. alucinações hipnagógicas

2.1.5.2. fenômenos entópticos

2.1.5.3. hipoglicemia da insulina

2.1.5.4. isquemia cerebral

2.1.5.5. epilepsias

2.1.5.6. exposição a estímulos visuais rotatórios ou tremulantes

2.1.5.7. privação sensorial

2.1.5.8. Tantas etiologias apontam que deve existir algum mecanismo fundamental em funcionamento no córtex sensitivo. As constantes de forma devem revelar algo a respeito da organização cortical e da natureza da percepção/processamento sensorial

2.2. Ronald Siegel ampliou os estudos de Kluver

2.2.1. ele estudou alucinações causadas pelo uso da Cannabis

2.2.2. definiu mias constantes de forma

2.2.3. definiu constantes de movimento

2.2.4. preocupou-se também com as formações de imagens, trazendo ilustrações que revelam o caráter pessoal da imaginação e da memória dos indivíduos que experimentam tais alucinações (concebidas em níveis mais elevados do que o córtex sensitivo primário)

3. Tipos de alucinação

3.1. 1º nível de alucinação

3.1.1. "Ver estrelas" (fosfenos)

3.2. 2º nível de alucinação

3.2.1. Espectro (raio) ou escotoma (mancha) que se expande com uma orla de fortificações

3.3. 3º nível de alucinação

3.3.1. Intricados padrões geométricos em rápida mudança

3.3.2. Metamorfosia: alteração e modulação dos contornos dos objetos

3.4. Esses 3 níveis ocorrem nessa ordem e a maioria fica apenas nos 2 primeiros

4. Mecanismos da alucinação

4.1. Visualização de fosfenos semelhantes aos da alucinação da enxaqueca podem ser provocados de imediato por estimulação elétrica direta do córtex visual, tanto na área primária quanto na de associação ou ao redor

4.1.1. Tal excitação do córtex visual provoca apenas alucinações de fosfenos e centelhas simples

4.2. Teorias de Lashley

4.2.1. O escotoma sempre permanece com forma constante e se expande, como se houvesse algum processo regular e uniforme que o fundamentasse

4.2.2. O funcionamento cerebral se dá por meio de ondas lentas de excitação e inibição, análogos aos do movimento físico de ondas ou à difusão química, o que explica a propagação dos escotomas da enxaqueca

4.2.3. Representou graficamente a taxa de aumentos dos seus próprios escotomas e concluiu que a onda de excitação que os originavam surgiam perto da mácula e propagavam-se pelo córtex a aproximadamente 3 mm por minuto

4.3. Hubel e Wiesel demostraram a existência de diversos "detectores de características" dentro do córtex visual organizados em "colunas"

4.4. Teoria de Richards

4.4.1. Uma onda de excitação avança pelo córtex ativando um grupos após o outro de colunas, causando uma estimulação elétrica desses grupos fazendo o paciente ver barras de luz que brilham conforme as colunas são estimuladas

4.5. Tais teorias não explicam os mecanismos das alucinações de 3º nível

4.5.1. "É evidente que devemos postular aqui alguma forma de esquematização funcional acima dos padrões citoarquitetônicos anatomicamente fixos"

4.5.2. Para avançar na compreensão das alucinações eram necessários novos princípios e teorias

5. Sistemas auto-organizadores

5.1. Experimento de Zhabotinski

5.1.1. Examinou misturas complexas se sulfato de cério, ácido malônico e brometo de potássio dissolvidos em ácido sulfúrico

5.1.2. Quando esses reagentes eram dispostos em uma fina camada e não eram mexidos, várias formas onduladas geométricas apareciam espontaneamente e cresciam

5.1.3. Sistemas químicos iguais a esses geram complexas geometrias no espaço e tempo, todos contêm certas formas básicas semelhantes às constantes de Kluver

5.2. Ilya Prigogine

5.2.1. Químico russo, um dos primeiros a lançar a ideia dos sistemas auto organizadores

5.2.2. "Nosso mundo físico não mais é simbolizado pelos movimentos estáveis e periódicos que estão no coração da mecânica clássica. O nosso mundo é um mundo de instabilidades e flutuações, que em última instância são responsáveis pela incrível variedade e riqueza das formas e das estruturas que vemos na natureza que nos rodeia. Novos conceitos e idéias são necessárias para descrever a natureza, e nos quais evolução e pluralismo sejam os aspectos chaves. [Com isto poderemos] explorar complexidade, seja ao nível de moléculas, de sistemas biológicos, ou ainda de sistemas sociais. Enfatizamos o papel de duas disciplinas que tem modificado dramaticamente nossa visão da complexidade. Uma é a física de não-equilíbrio: nesta disciplina o resultado mais inesperado é a descoberta de novas propriedades da matéria quando em condições de fortemente afastada do equilíbrio. A outra disciplina é a moderna teoria de sistemas dinâmicos. Nela a descoberta central é a predominância da instabilidade. Resumindo, significa que pequeníssimas mudanças nas condições iniciais podem levar a enormes amplificações nos efeitos resultantes das mudanças. Os novos métodos que vêm sendo desenvolvidos neste contexto, levam para uma melhor compreensão do mundo em que vivemos."

5.2.3. "Ordem pelas flutuações"

5.2.3.1. Os sistemas naturais em geral não são fechados, e sim abertos para o ambiente, são partes do mundo, com todas as suas vicissitudes. Essa abertura para o mundo causa flutuações imprevisíveis, as quais forçam o sistema cada vez mais para longe do equilíbrio. Logo chega um ponto crítico, e nesse ponto ocorre uma mudança brusca, chamada bifurcação, na qual as flutuações são ampliadas e impelem os sistema para uma nova fase , que pode, por sua vez, mover-se para um novo ponto de bifurcação

5.2.3.2. As flutuações são o motor dos sistemas abertos, consideras um princípio organizador fundamental na natureza

5.2.4. "Ordem pelas flutuações"

5.3. "Esses sistemas tendem a pairar longe do equilíbrio, e á essa posição longe do equilíbrio que lhes confere suscetibilidade, caráter crítico, capacidade de mudar de maneira radical e imprevisível, de gerar, de desenvolver novas estruturas e formas."

5.3.1. Dessa mesma forma, é a partir das mais extremas situações que se reafirma a plasticidade cerebral e comportamental humana, que por sua vez não pode ser explicada a partir de uma lógica formal e linear, mas sim, como produto de uma evolução não linear, dialética e complexa.

5.4. A elaboração das teorias do caos e dos sistemas auto-organizadores provocaram uma mudança de paradigma na ciência da época que, a partir disso, reconheceu o caráter inovador e progressivo dos processos físicos. Em que certos princípios organizadores complexos e podem ser reconhecidos em todos os níveis da natureza. Tais comportamentos universais exigem, para sua ilustração, o desenvolvimento de novas vertentes da matemática e de supercomputadores poderosos

6. Um novo modelo de aura de enxaqueca

6.1. Tal mudança de paradigma se estendeu também para o entendimento do funcionamento do córtex cerebral, que foi então considerado como um sistemas auto-organizador, caótico e complexo. O que levou Oliver Sacks a reexaminar o problema das formas complexas e em evolução da aura e das constantes de forma alucinatórias em geral

6.2. Os avanços da computação, se tornou possível arquitetar modelos de redes de neurônios dotados com pelo menos algumas das propriedades do córtex verdadeiro e visualizar seu comportamento quando estimuladas, com isso ele pretendia verificar se eram realmente gerados padrões espaciais e temporais semelhantes aos da aura

6.3. O modelo utilizado, embora bem mais limitados com relação ao córtex original, é dotado das mesmas propriedades relacionadas com o tempo que são cruciais para o funcionamento cortical: potenciais de ação, retardamento de propagação (tempo necessário para um PA passar de um neurônio para o outro) e sinapses. Tais parâmetros podem ser variados, assim como o próprio estímulo

6.4. Quando Sacks analisou essa rede, ele observou que, dependendo dos parâmetro usados, ocorrem 3 tipos de comportamentos:

6.4.1. Um estímulo focalizado em um único ponto faz com que ondas se propaguem para longe do ponto estimulado, até que, devido a propriedade de tudo ou nada dos PA) elas se extinguem. Tais ondas, no seu inicio, são análogas aos fosfenos e sua posterior propagação pela rede nervosa, similar às ondas que se disseminam simetricamente que dão origem ao aumento uniforme dos escotomas

6.4.2. Usando outros parâmetros, a onda de atividade primária leva à produção de ondas secundárias e terciárias, e essas ondas secundárias e terciárias podem colidir com interferência construtiva e destrutiva, de modo aleatório, produzindo uma massa de excitação. Isso pode ser similar ao distúrbio e ao tumulto vistos nas fases iniciais do 3º nível, antes da formação de treliças e outras formas

6.4.3. Com outra mudança de parâmetros, pode ocorrer a emergência e evolução de complexos padrões geométricos no espaço e no tempo. Alguns mais simples, similares às treliças e espirais vistas na enxaqueca, outros mais complexos semelhantes as formas ornamentais descritas por Kluver

6.4.4. Esse 3 tipos de comportamento podem ser provocados variando apenas um único parâmetro, por exemplo, a força da capacidade conetiva da sinapse. No entanto, eles também podem ser observados com variações no retardamento de propagação

6.4.5. "É como se o próprio sistema tivesse apenas um certo conjunto de comportamentos e esses comportamentos fossem universais do sistema, resultantes de uma 'auto-organização' espontânea na rede."

6.5. A hipótese de Sacks é que os neurônios do córtex visual primário forma um campo, no qual eventos e integrações neurais complexos são determinados menos por considerações locais de micro anatomia, núcleos, colunas e centros e mais por considerações globais de ações e interações de ondas em um meio neuronal vivo, espontaneamente ativo e complexo

6.6. Dessa forma Sacks, no final do séc. XX, criou uma rede-modelo neural auto-organizadora que é capaz de criar padrões geométricos espontaneamente, sugerindo que o próprio cérebro também funciona da mesma maneira, tecendo padrões em eterna mudança, em dissolução, mas sempre significativos.

6.7. Segundo ele, os processos do caos e auto-organização no córtex são normalmente locais, microscópicos, e, assim, invisíveis, é somente em condições patológicas que eles se combinam, sincronizam-se, torna-se globais, fazem-se visíveis, assumem o controle e se impõem à percepção como alucinações padronizadas