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Conversas-1948 por Mind Map: Conversas-1948

1. a arte e 0 pensamento modemos sao dificeis:

2. Maurice Merleau-Ponty

3. EXPLORAÇ;AO DO MUNDO PERCEBIDO: O ESPAÇO II

3.1. 0 pensamento modemo é difícil, inverte 0 senso comum porque tem a preocupa<;ao da verdade, e a experiência não lhe permite mais ater-se honestamente as ideias claras ou simples as quais 0 senso comum se apega porque elas lhe trazem tranquilidade.

3.2. 0 espaço e o meio homogêneo onde as coisas estão distribuídas segundo três dimensões e onde elas conservam sua identidade, a despeito de todas as mudanças de lugar.

3.3. Toma-se impassível distinguir rigorosamente 0 espaço das coisas no espaço, a ideia pura do espaço do espetáculo concreto que nossos sentidos nos oferecem

3.4. o espaço, assim, não é mais esse meio das coisas simultâneas que poderia ser dominado por um observador absoluto, igualmente próximo de todas elas, sem ponto de vista, sem corpo, sem situação espacial, pura inteligencia, em suma- 0 espaço da pintura modema, dizia recentemente Jean Paulhan, e "0 espaço sensível ao coraçãO"3, onde também estamos situados, próximos de nós, organicamente ligados à nós.

3.5. Depois da ciência e da pintura, também a filosofia e sobretudo a psicologia parecem atentar ao fato de que nossas relações com 0 espaço não são as de um puro sujeito desencarnado com um objeto longuínco, mas as de um habitante do espaço com seu meio familiar.

3.5.1. Em psicologia, assim como em geometria, a ideia de um espaço homogêneo completamente entregue a urna inteligência sem corpo e substituída pela ideia de urn espaço heterogêneo, com direções privilegiadas, que " tem relação com nossas particu1aridades corporais e com nossa situação de seres jogados no mundo.

4. O MUNDO PERCEBIDO E O MUNDO DA CIÊNCIA I

4.1. o mundo da percepção parece-nos a primeira vista o que melhor conhecemos, já que não são necessários instrumentos nem cálculos para ter acesso a ele e, aparentemente, basta-nos abrir os olhos e nos deixarmos viver para nele penetrar. Contudo, isso não passa de uma falsa aparência.

4.2. Descartes dizia até que, somente pelo exame das coisas sensíveis e sem recorrer aos resultados das pesquisas científicas, sou capaz de descobrir a impostura dos meus sentidos e aprender a me fiar apenas na inteligência

4.2.1. A ciencia foi e continua sendo a area na qual e preciso aprender 0 que e uma verifica<;ao, 0 que e uma pesquisa rigorosa, 0 que ea crftica de si mesmo e dos pr6prios preconceitos. Foi born que se tenha esperado tudo dela numa epoca em que ainda nao existia.

4.2.1.1. Nilo se trata de negar ou de limitar a ciencia; trata-se de saber se ela tern 0 direito de negar oude excluir como ilusorias todas as pesquisas que nilo procedam como ela por medic;6es, comparac;6es e que nilo sejam concluidas porleis, como as da fisica classica, vinculando determinadas conseqiiencias a determinadas condic;6es.

5. oOs eventos da historia do mundo podem ser deduzidos de um certo número de leis que formariam a face permanente do universo; inversamente, e a lei que é uma expressão aproximada do evento físico e deixa subsistir sua opacidade.

5.1. 0 cientista de hoje tem mais a ilusão, como 0 do periodo classico, de alcanc;ar 0 amago das coisas, 0 proprio objeto.

5.1.1. Enquanto a ciência e a filosofia das ciências abriam, assim, as portas para uma exploração do mundo percebido, a pintura, a poesia e a filosofia entravam decididamente no domínio que lhes era assim reconhecido e davam-nos uma visão, extremamente nova e característica de nosso tempo, das coisas, do espaço, dos animais e até do homem visto de fora tal como aparece no campo de nossa percepção.

6. EXPLORA<;:AO DO MUNDO PERCEBIDO: AS COISAS SENSÍvEIS III

6.1. Se, depois de examinar 0 espa<;o, considerarmos as próprias coisas que 0 preenchem e consultarmos a esse respeito um manual clássico de psicologia, nele verificaremos que a coisa é um sistema de qualidades oferecidas aos diferentes sentidos e reunidas por um ato de síntese intelectual

6.2. A unidade da coisa permanece misteriosa enquanta considerarmos suas diferentes qualidades (sua cor, seu sabor, por exemplo) como dados que pertencem aos mundos rigorosamente distintos da visao, do olfato, do tato etc.

6.2.1. Porém a psicologia modema, seguindo nesse aspecto as indicações de Goethe, observou justamente que cada uma. dessas qualidades, longe de ser rigorosamente isolada, tem uma significação afetiva que a coloca em correspondência com a dos outros sentidos.

6.2.1.1. Forem, assim considerada, cadaqualidade abrese para as qualidades dos outIos sentidos.

6.3. A unidade da coisa não se encontra par trás de cada uma de suas qualidades: ela e reafirmada por cada uma delas, cada urna delas é a' coisa inteira

6.4. As coisas não são, portanto, simples objetos neutros que contemplaríamos diante de nós; cada urna delas simboliza e evoca para nós uma certa conduta, provoca de nossa parte reações favoráveis ou desfavoráveis, e é por isso que os gostos de um homem, seu caráter, a atitude que assumiu em relação ao mundo e ao ser exterior são lidos nos objetos que ele escolheu para ter à sua volta, nas cores que prefere, nos lugares onde aprecia passear.

6.5. entre 0 homem e as coisas nao mais essa r€la<;:ao de distancia e de domina<;:ao que existe entre 0 espfrito soberano e 0 peda<;:o de cera na celebre analise de Descartes, mas urna rela<;:ao menDs cla.ra- umaproximidadevertiginosa que nos impede de nos apreendermos como urn espfrito puro separado das coisas, ou de definir as coisas como puros objetos semnenhumatributo humano.