
1. ATENÇÃO
1.1. Devemos acompanhar as cenas que vemos com a cabeça cheia de ideias.
1.1.1. Elas devem ter significado, receber subsídios da imaginação, despertar vestígios de experiências anteriores, mobilizar sentimentos e emoções, atiçar a sugestionabilidade, gerar ideias e pensamentos, aliar-se mentalmente à continuidade da trama e conduzir permanentemente a atenção para um elemento importante e essencial — a ação.
1.1.2. O melhor não vem de fora.
1.2. A atenção é, de todas as funções internas que criam o significado do mundo exterior, a mais fundamental.
1.2.1. Selecionando o que é significativo e relevante, fazemos com que o caos das impressões que nos cercam se organize em um verdadeiro cosmos de experiências.
1.3. A atenção é voluntária quando nos acercamos das impressões com uma ideia preconcebida de onde queremos colocar o foco.
1.4. Tudo o que é barulhento, brilhante e insólito atrai a atenção involuntária. (...) Tudo o que mexe com os instintos naturais, tudo o que provoca esperança, medo, entusiasmo, indignação, ou qualquer outra emoção forte assume o controle da atenção
1.5. No cotidiano, a atenção voluntária e a involuntária caminham sempre juntas.
1.6. Teatro
1.6.1. não faltam ao teatro meios de canalizar a atenção involuntária
1.6.1.1. o ator que fala chama mais atenção do que os que estão calados
1.6.1.2. Se todo o mundo está parado e um levanta o braço, este leva a atenção.
1.6.1.3. A ação rápida, a ação insólita, a ação repetida, a ação inesperada, a ação de forte impacto
1.7. Cinema
1.7.1. só se pode esperar atenção involuntária.
1.7.1.1. Se, nas suas explorações, a atenção se guiasse por ideias preconcebidas em vez de curvar-se às exigências do filme, estaria em desacordo com sua tarefa.
1.7.2. à exceção das palavras, nenhum meio de atrair a atenção válido para o palco se perde no cinema.
1.7.3. na falta da palavra, toda a atenção passa a convergir para a expressão do rosto e das mãos.
1.7.4. Na ausência da fala, tudo se condensa, o ritmo se acelera, o tempo se torna mais premente — os relevos se acentuam e há maior ênfase em benefício da atenção.
1.7.5. Um rosto invulgar, uma roupa esquisita, um traje deslumbrante ou uma surpreendente falta de traje, uma curiosa peça de decoração podem chamar a atenção
1.7.5.1. No cinema, existem recursos ilimitados que permitem utilizar esses meios com eficiência redobrada, particularmente em se tratando do cenário ou fundo.
1.7.6. Finalmente, a disposição formal das imagens sucessivas pode controlar a atenção
1.7.7. Composição
1.7.7.1. a imagem fixada pela câmera é a mesma, de qualquer canto da sala de cinema
1.7.7.2. A iluminação, as zonas escuras, a indefinição ou a nitidez dos contornos, a imobilidade de uma parte da imagem em oposição ao movimento frenético de outras
1.7.8. Close up
1.7.8.1. O close-up transpôs para o mundo da percepção o ato mental de atenção
1.7.8.1.1. Se os movimentos das mãos de um ator no palco captam o nosso interesse, não olhamos mais a totalidade da cena. Vemos apenas os dedos do herói colados ao revólver com o qual vai cometer o crime.
1.7.8.1.2. O ato de atenção que se dá dentro da mente remodelou o próprio ambiente.
1.7.8.1.3. As circunstâncias externas se curvaram às exigências da consciência.
2. MEMÓRIA E IMAGINAÇÃO
2.1. tanto o teatro como o cinema sugerem à mente do espectador que, mais do que uma mera dramatização, é a vida que ele está presenciando.
2.1.1. as pessoas que estão no palco são reais e não têm como se furtar às leis da natureza
2.1.2. O teatro está circunscrito aos acontecimentos que se desenrolam em apenas um lugar. A mente quer mais.
2.2. a memória atua evocando na mente do espectador coisas que dão um sentido pleno e situam melhor cada cena, cada palavra e cada movimento no palco
2.2.1. Partindo do exemplo mais trivial, a cada momento precisamos lembrar o que aconteceu nas cenas anteriores.
2.2.2. O teatro não tem outro recurso senão sugerir à memória tal retrospecto.
2.3. o cinema pode fazer a ponte para o futuro ou para o passado
2.4. Flashback ou analepse
2.4.1. vemos o herói no auge do perigo; e, num súbito lampejo, aparece na tela um quadro do passado.
2.4.2. O cutback admite inúmeras variações e pode servir a muitos propósitos. Mas este que estamos considerando é, psicologicamente, o mais interessante.
2.4.3. o cutback apresenta um certo paralelismo com o close-up: neste identificamos o ato mental de prestar atenção, naquele, o ato mental de lembrar.
2.5. Flashforward ou prolepse
2.5.1. A interrupção do curso dos acontecimentos por visões prospectivas não passa de uma outra versão do mesmo princípio. Aqui, a função mental é a da expectativa
2.5.2. No cinema, a imaginação se projeta na tela.
2.6. O cinema, ao invés de obedecer as leis do mundo exterior, obedece as da mente.
2.6.1. possui a mobilidade das ideias, que não estão subordinadas às exigências concretas dos acontecimentos externos mas às leis psicológicas da associação de ideias. Dentro da mente, o passado e o futuro se entrelaçam com o presente.
3. EMOÇÕES
3.1. Close up
3.1.1. É no auge da emoção no palco que o espectador de teatro recorre aos binóculos (...) Na tela, a ampliação por meio do close-up acentua ao máximo a ação emocional do rosto, podendo também destacar o movimento das mãos
3.2. Ritmo
3.2.1. Contribui ainda para esse exagero artificial o ritmo ligeiro — de marcha — do drama filmado. Frequentemente, a rápida alternância das cenas parece exigir saltos de um clímax emocional para outro, ou melhor, o emprego de manifestações extremas quando o conteúdo dificilmente se prestaria a esses rasgos da emoção.