
1. A) O conceito clássico de hermenêutica;
1.1. São estabelecidas três posições filosóficas clássicas importantes para se compreender o vocábulo hermenêutica:
1.1.1. Expressar no sentido de dizer ou falar; expor com intensão de interpretar e traduzir; além de traduzir, ou seja, ser intérprete.
2. B) A etimologia da palavra hermenêutica;
2.1. A origem da palavra hermenêutica reside no verbo grego hermeneueuein. Etimologicamente, o verbo pode ser traduzido por interpretar, mas que seu substantivo hermeneia indica interpretação.
2.1.1. Etimologicamente, a Hermenêutica se caracteriza como um processo interpretativo pela busca do sentido “verdadeiro” como paradigma filosófico indispensável para a reflexão acerca do problema da compreensão.
3. C) As consequências da reforma protestante no desenvolvimento da hermenêutica;
3.1. Nesse contexto, Lutero empreende uma interpretação literal da bíblia, utilizando metodologicamente do princípio Sola Scriptura, com pressuposto da Reforma Protestante para adotar o pressuposto retórico do todo e da parte.
3.1.1. Diante desse processo, verificou-se que o problema da interpretação não se resolveria apenas com a leitura do texto pelo texto, mas era preciso intentar-se uma abordagem histórico-crítica de restauração do contexto de vida a que se integrava os documentos, ampliando significativamente o conceito de Hermenêutica por meio da ideia de circularidade do todo e da parte, a partir de sua situação histórica.
3.1.1.1. Essa transformação teórica e metodológica de perspectiva hermenêutica e o inevitável desenvolvimento de uma consciência histórica, possibilitaram o surgimento das concepções subjetivistas-objetivistas de Schleiermacher e Dilthey sobre o problema da interpretação, partindo do ideal iluminista mediante uma análise gramatical, filosófica e sobretudo histórica.
4. D) As características da hermenêutica romântica;
4.1. A “Escola Romântica” é caracterizada por um desejo de unidade ou reconciliação do homem entre a dimensão interna e a realidade externa, tentando reconhecer todas as potencialidades do ser, por meio da possibilidade de compreender efetivamente a interioridade humana em sua singularidade.
4.1.1. Este retorno às experiências subjetivas do próprio eu e ao cultivo das emoções, intuitivamente foi preconizado pelo Romantismo. Schleiermacher tornou possível integrar ao processo de compreensão das vivências existenciais humanas a fé e a ciência. Assim, estabeleceu que a comunicação é uma condição necessária para expressar a manifestação da divindade interior de qualquer indivíduo.
4.1.1.1. Por isso, despertou interesse pela interpretação do singular e do todo que se revela por meio da experiência e se compreende pela linguagem, transcendendo o conhecimento meramente sistemático, por constituir sua teoria hermenêutica no âmbito do conhecimento teológico e a partir da escola do pensamento romântico.
5. E) A transformação produzida por Schleiermacher no campo hermenêutico;
5.1. Consagrado como o fundador da Hermenêutica contemporânea, com Schleiermacher, a Hermenêutica torna-se autônoma, como disciplina dedicada à “arte de compreender” adequadamente o pensamento que se encontra na base do discurso.
5.1.1. No âmbito da reflexão racional e inspirado pela tradição retórica, Schleiermacher contribuiu para a superação do paradigma de múltiplas hermenêuticas. Por considerar, meramente, um conhecimento instrumental do teólogo, do jurista ou do filólogo, o pensador polonês idealizou um projeto para fundar uma teoria geral da Hermenêutica.
5.1.1.1. Metodologia inovadora fundada na descrição unificada dos processos de compreensão, a partir da interpretação de todos os textos, escritos ou orais, religiosos ou mundanos, antigos ou modernos.
6. F) A definição de hermenêutica em Schleiermacher;
6.1. Para Schleiermacher, a Hermenêutica visa pensar o universal e o particular, o ideal e o histórico a partir da perspectiva dialética.
6.1.1. Assim, o processo de conhecimento é uma possibilidade de pensar o concreto como etapa de mobilizar a capacidade racional, para compreender intelectualmente a realidade como reconstrução histórica e divinatória, considerando os elementos objetivos ou subjetivos de um determinado discurso oral ou escrito.
6.1.1.1. Deste modo, busca-se captar o pensamento do autor, efetuando uma análise de sua linguagem, que concomitantemente torna necessário reconhecer o contexto de sua produção através de um retorno ao momento de seu surgimento ou gênese.
7. G) Os métodos adotados por Schleiermacher e a definição do círculo hermenêutico;
7.1. Schleiermacher utiliza dois métodos indissociáveis para empreender a correta compreensão da linguagem: um gramatical (comparativo) e o outro psicológico (divinatório).
7.1.1. A partir disso, ele defende que a Hermenêutica tem como objetivo fundamental não somente compreender o texto escrito, mas sobretudo revelar o seu sentido expresso na linguagem como horizonte possível para se interpretar adequadamente a individualidade criadora, ou seja, a todo texto interpretado há seu contexto como pressuposto para entender cada momento de produção livre do autor.
7.1.1.1. Para Schleiermacher, portanto, a função de sua hermenêutica é dedicar-se a compreender o sentido do texto, porém sem que se perca de vista a leitura que inter-relaciona o sujeito (autor) e o objeto (geralmente o texto). Por esse motivo, a interpretação literal dos signos deve pressupor metodologicamente a busca constante pela compreensão da individualidade do seu autor.
7.1.1.1.1. Nisto reside o que se denomina chamar de círculo hermenêutico, já que do ponto de vista metodológico, a interpretação deve ocorrer a partir da união de dois métodos: o gramatical, centrado no texto, e o psicológico (técnico), centrado no autor, a fim de superar-se a superficialidade da interpretação meramente gramatical.
8. H) A superação da hermenêutica produzida pela investigação de Wilhelm Dilthey;
8.1. A Hermenêutica Romântica é superada por meio de um elemento fundamental para a compreensão dos fatos históricos, passando de uma metodologia meramente de interpretação dos sentidos imanentes dos textos, para uma metodologia que buscava uma adequada identificação dos sentidos imanentes dos processos históricos.
8.1.1. Wilhelm Dilthey se dedicou profundamente a tentar explicar o processo de compreensão a partir de uma Crítica da Razão Histórica, fundamentando as ciências do entendimento sobre categorias próprias, ou seja, Dilthey tentou fixar a Hermenêutica como uma metodologia para as ciências do espírito.
8.1.1.1. Assim, ele acreditava que no âmbito dos estudos humanísticos era preciso se dedicar a compreender as manifestações da vida, distintamente do modelo científico estabelecido às ciências da natureza e às normas de causalidade e rigidez de um pensamento mecanicista e basicamente quantitativo.
9. I) A crítica de Dilthey ao paradigma positivista;
9.1. Para Dilthey, nos estudos humanísticos era preciso se dedicar a compreender as manifestações da vida, distintamente do modelo científico estabelecido às ciências da natureza e às normas de causalidade e rigidez de um pensamento mecanicista e basicamente quantitativo.
9.1.1. Essa posição elevou Dilthey como expoente crítico ao paradigma positivista baseado em Comte e John Stuart Mill, que acreditavam, essencialmente, na impossibilidade de fundar-se uma metodologia específica aplicada às ciências humanas, pois deveriam adotar igualmente o método consagrado nas ciências da natureza.
9.1.1.1. Diante disso, Dilthey defende que o método adequado para a compreensão das questões humanísticas deve fundamentar-se epistemologicamente no âmbito das ciências do espírito, pois é a história que deve ser o objeto de análise hermenêutica, uma vez que não terá qualquer efeito tentar captar as intenções psicológicas que motivaram a produção de um texto.
10. J) A descrição da hermenêutica como método para as ciências do espírito proposta por Dilthey.
10.1. Dilthey defende que o método adequado para a compreensão das questões humanísticas deve fundamentar-se epistemologicamente no âmbito das ciências do espírito, pois é a história que deve ser o objeto de análise hermenêutica, uma vez que não terá qualquer efeito tentar captar as intenções psicológicas que motivaram a produção de um texto.
10.1.1. Na concepção hermenêutica histórica de Dilthey, torna-se imperioso dizer que compreender é compreender uma expressão, relação considerada como processo de vivências histórias individuais, uma unificação do interno e do externo, que se tornou vida. Por este motivo, a fundamentação do conhecimento histórico deveria ser encontrada nos fatos da consciência.
10.1.1.1. Deste modo, o que Dilthey descobre é que a própria “vida humana” deve ser considerada objeto de análise do conhecimento, ou seja, as ciências do espírito propostas exclusivamente pelo filósofo alemão investigam as manifestações da vida humana que ele denomina realidade histórico-social.