1. Algo totalmente novo está acontecendo. Nos últimos cinco ou dez anos, quase todo mundo começou a carregar consigo, o tempo todo, um aparelhinho chamado smartphone, feito sob medida para modificações de comportamento pelos algoritmos.
2. Agora, todos que estão nas redes sociais recebem estímulos individualizados, continuamente ajustados, sem trégua; é só estar usando o smartphone. O que antes podia ser chamado de propaganda deve agora ser entendido como uma modificação de comportamento permanente e em escala gigantesca.
3. O CIENTISTA LOUCO ACABA SE PREOCUPANDO COM O CACHORRO NA GAIOLA
4. Você já deve ter ouvido as confissões pesarosas dos fundadores de impérios de redes sociais, que prefiro chamar de “impérios de modificação de comportamento”.
5. Durante anos, tive que suportar críticas um tanto dolorosas de amigos do Vale do Silício porque eu era considerado um traidor por censurar o que vínhamos fazendo. Ultimamente, tenho o problema oposto
6. A questão mais importante agora é se a crítica de qualquer pessoa fará diferença. É inegável que uma tecnologia ruim está nos fazendo mal, mas será que nós — será que você, você mesmo — seremos capazes de resistir e ajudar a direcionar o mundo para um lugar melhor?
7. As empresas estão mudando políticas, contratando humanos para monitorar o que está rolando e cientistas de dados para produzir algoritmos que evitem falhas piores
8. Neste livro, argumentamos que as empresas sozinhas não têm condições de colar todos esses cacos de volta.
9. O primeiro argumento apresentará alguns conceitos cruciais por trás da criação de serviços da rede viciantes e manipuladores. Ter consciência é o primeiro passo para a liberdade.
10. PRÊMIO E CASTIGO
11. O principal processo que leva as redes sociais a ganharem dinheiro, embora também cause danos à sociedade, é a modificação de comportamento
11.1. Criamos ciclos de feedback de curto prazo impulsionados pela dopamina que estão destruindo o funcionamento da sociedade (...) Nenhum discurso civil, nenhuma cooperação; apenas desinformação, inverdades.
11.2. Vários tipos de punição têm sido usados em laboratórios behavioristas; os choques elétricos, por exemplo, foram populares durante algum tempo. Mas, assim como as recompensas, não é necessário que as punições sejam reais ou físicas. Às vezes os experimentos negam à cobaia pontos ou símbolos
12. Os danos à sociedade ocorrem porque o vício enlouquece as pessoas. O viciado vai perdendo gradualmente o contato com o mundo e as pessoas reais. Quando muitos estão viciados em esquemas manipuladores, o mundo fica obscuro e louco.
13. O vício é um processo neurológico que não entendemos completamente. A dopamina é um neurotransmissor que age no prazer e é considerado crucial para mudanças comportamentais em resposta à obtenção de recompensas. É por isso que Parker menciona essa substância.
14. O prazer viciante e os padrões de recompensa no cérebro — a “pequena dose de dopamina” mencionada por Sean Parker — integram a bas e do vício em redes sociais, mas não é só isso, porque a rede social também usa a punição e o reforço negativo.
15. Para um cientista, é saudável ficar fascinado por um padrão que não faz muito sentido, pois talvez signifique alguma coisa mais profunda a ser descoberta. É também uma ótima ferramenta para explorar se você estiver escrevendo um roteiro. Afinal, uma pequena incongruência confere mais fascínio a uma trama ou um personagem
16. Como os estímulos do algoritmo não significam nada e são verdadeiramente aleatórios, o cérebro não está se adaptando a nada real, mas a uma ficção. Esse processo — de ser fisgado por uma miragem imprecisa — é o vício. Enquanto o algoritmo tenta escapar de uma rotina, a mente humana fica presa em outra.
16.1. Os algoritmos das redes sociais costumam ser “adaptáveis”: fazem pequenas e constantes mudanças em si mesmos para tentar obter melhores resultados; em outras palavras, resultados com mais engajamento e, portanto, mais lucrativos
17. As redes sociais produzem outra dimensão de estímulos: pressão social.
18. As pessoas são extremamente sensíveis a questões como status social, julgamento e competição
19. Por exemplo, quando temos medo de que as pessoas não nos considerem descolados, atraentes ou de status elevado, acabamos nos sentimos mal. Esse temor é profundo e chega a doer
20. Todo mundo sofre de ansiedade social de vez em quando, e toda criança já se deparou com um valentão que usou a ansiedade social como arma de tortura, provavelmente porque se comportar como um valentão diminuía suas chances de se tornar um alvo
20.1. Isso não quer dizer que todas as emoções sociais sejam negativas. Quando interagimos com outras pessoas, também podemos experimentar camaradagem, solidariedade, respeito, admiração, gratidão, esperança, empatia, proximidade, atração e um mundo de outros sentimentos positivos
21. Se emoções socialmente evocadas podem funcionar como punição ou recompensa, então o que é mais eficiente para mudar as pessoas: a recompensa ou a punição? Essa pergunta tem sido estudada há muito tempo, e a resposta parece variar de acordo com a população abordada e a situação
22. BIT COMO ISCA
23. No entanto, existe algo na rigidez da tecnologia digital — a natureza intermitente do bit — que atrai a maneira behaviorista de pensar. Recompensa e punição são como um e zero.
24. O termo “engajamento” faz parte da linguagem familiar, eufemística, que esconde a imensa estupidez da máquina que construímos. Precisamos usar termos como “vício” e “modificação de comportamento”.
25. A natureza não planejada da transformação da propaganda em modificação de comportamento direta causou uma amplificação explosiva da negatividade em assuntos humanos. Retornaremos muitas vezes à maior potência das emoções negativas na mudança comportamental à medida que explorarmos os efeitos pessoais, políticos, econômicos, sociais e culturais de plataformas como o Facebook.
26. VÍCIO, CONHEÇA O EFEITO DA REDE
27. Em grande medida, o vício é o motivo pelo qual tantos de nós aceitamos ser espionados e manipulados por nossa tecnologia de informação, mas ele não atua sozinho
28. Quando chegamos a um ponto em que podemos usar um aparelho de bolso para chamar um táxi, pedir comida ou descobrir em tempo real onde nossos amigos estão, é complicado voltar atrás
29. Um dos principais motivos para deletar suas contas nas redes sociais é que não existe uma escolha real de se mudar para redes diferentes. Largá-las é a única opção de mudança. Se não sair delas, você não criará o espaço em que o Vale do Silício pode agir para se aprimorar.
30. O VÍCIO E O LIVRE-ARBÍTRIO SÃO OPOSTOS
31. O vício aos poucos nos transforma em zumbis, e os zumbis não têm livre-arbítrio. Mais uma vez, esse resultado não é total, mas estatístico. Ficamos mais parecidos com zumbis, e por mais tempo, do que ficaríamos em outras circunstâncias.
32. Não existe arbítrio totalmente livre. Os cérebros estão sempre mudando suas maneiras de se adaptar a um ambiente em mutação; um trabalho tão difícil que eles ficam exaustos! Às vezes, os cérebros tiram uma folga, saem de cena e funcionam no piloto automático, mas isso é diferente de ser motivado por manipuladores ocultos.
33. Para se libertar, ser mais autêntico, menos viciado, menos manipulado, menos paranoico... por todos esses motivos maravilhosos, delete suas contas nas redes sociais.
34. Voltando ao fenômeno surpreendente: não é que os feedbacks positivo e negativo funcionem, mas uma resposta de certo modo aleatória ou imprevisível pode ser mais atrativa do que uma resposta perfeita
35. Ao usar a expressão “de vez em quando”, Parker provavelmente se refere a um fenômeno curioso que os behavioristas descobriram quando estudavam animais e pessoas. O indivíduo que recebe uma recompensa (uma demonstração positiva de estima social ou uma bala, por exemplo) sempre que faz algo tende a repetir o ato. Quando recebem uma resposta lisonjeira a alguma publicação nas redes sociais, as pessoas adquirem o hábito de postar mais.
36. Estamos sendo hipnotizados pouco a pouco por técnicos que não podemos ver, para propósitos que não conhecemos. Agora somos todos animais de laboratório.
37. Os supostos anunciantes podem se apoderar do momento em que você está perfeitamente satisfeito e influenciá-lo com mensagens que funcionaram com outras pessoas cujas características e situações são iguais às suas.
38. Novo TópicoMuitos de nós também usam aparelhos chamados smart speakers (alto-falantes inteligentes) na bancada da cozinha de casa ou no painel do carro.
39. Por favor, não se ofenda. Sim, estou sugerindo que você talvez esteja se tornando, só um pouquinho, um cachorro adestrado, ou algo menos lisonjeiro, como um rato de laboratório ou um robô.
40. Este livro argumenta de dez maneiras diferentes que o que se tornou subitamente normal — a vigilância generalizada e a manipulação constante, sutil — é antiético, cruel, perigoso e desumano. Perigoso? Com certeza. Afinal, como é possível saber quem usará esse poder, e para quê?
41. O CÉU E O INFERNO SÃO OS OUTROS11
42. Em estudos famosos da psicologia, como o Experimento de Milgram e o Experimento de Aprisionamento de Stanford, o poder da opinião alheia provou ser forte o bastante para modificar o comportamento dos participantes
43. Em redes sociais, a manipulação das emoções tem sido a maneira mais fácil de gerar recompensas e punições
44. Emoções negativas, como medo e raiva, vêm à tona mais facilmente e permanecem em nós por mais tempo do que as emoções positivas. Leva-se mais tempo para construir confiança do que para perdê-la. Reações de “luta ou fuga” ocorrem em questão de segundos, e pode levar horas até que a pessoa volte ao estado de relaxamento.