1. O artigo apresenta um breve relato acerca do percurso histórico da psicologia no Brasil, tendo como foco de análise algumas das muitas contradições presentes em seu processo de constituição.
1.1. Gramsci
1.1.1. Defende que não é possível um conhecimento crítico sobre a realidade que prescinda de sua compreensão histórica.
1.2. Psicologia no Brasil
1.2.1. Construção histórica e social, síntese de múltiplas determinações, orientada por determinadas concepções de homem e de sociedade e comprometida com posições de classe que a torna contraditória, mas tendo superação através do embate entre esses elementos que o compõe.
2. A produção de saberes psicológicos no período colonial e no século XIX
2.1. Companhia de Jesus
2.1.1. Jesuítas ocuparam-se de produzir e difundir conhecimentos que tinham como função organizar e manter a empresa colonial através da educação.
2.1.1.1. Filhos dos colonos portugueses - Ratio Studiorum (prepará-los para o seguimento dos estudos na metrópole)
2.1.1.2. Filhos dos nativos da terra - educação elementar e catequese (pedagogia repressiva, baseada em castigos, com vistas à disciplinarização e controle, com base na psicologia moral da época)
2.2. Estudos de Berenchtein Netto (2012) sobre suicídios na colônia
2.2.1. Muitos escritos, dentre eles vários de autoria de jesuítas, tinham a finalidade de inibir o ato da morte voluntária, com base na danação eterna como punição ao pecado, sobretudo de indígenas, em um primeiro momento, mas principalmente de escravos africanos ou de seus descendentes, que encontravam na morte voluntária a possibilidade de fuga das condições desumanas de vida a eles impostas.
2.3. Contradições e conflitos
2.3.1. Posições políticas divergentes; Enfrentamento do poder metropolitano (Padre Vieira); Incentivo a resistência dos escravizados.
2.3.1.1. Os saberes psicológicos na colônia não são homogêneos, mas internamente contraditórios, e expressam as relações de exploração da metrópole sobre a colônia.
2.4. Medicina social
2.4.1. Normalização e higienização social, com vistas à eliminação da desordem e dos desvios, sendo proposta a higienização de hospitais, cemitérios, quartéis, bordéis, prisões, fábricas e escolas.
2.5. Faculdades de medicina do Rio de Janeiro e da Bahia (1832)
2.5.1. Instituições que contribuíram para a produção dos saberes psicológicos no Brasil com produção de tese que se tornaram fontes de estudo dos fenômenos psicológicos no interior da medicina no século XIX.
3. Pedagogium (1906)
3.1. Área de estudo e de intervenção
3.2. Primeiro laboratório de psicologia no Brasil
3.3. Impulsiona a expansão de hospícios no século seguinte
4. A psicologia se desenvolveu articulada a interesses elitistas e a um projeto específico de modernização do país.
4.1. Jornais vinculados aos movimentos operários, de cunho anarcossindicalista ou socialista, traziam referências a questões da psicologia e a obras na área.
4.2. Estudos documentais são necessários para se conhecer melhor como a psicologia era vista, que autores era considerados e a que situações ela era chamada a contribuir como conhecimento específico.
4.3. A psicologia que se estabeleceu e se institucionalizou foi a que teve origem em instituições educacionais e médicas.
5. O processo de consolidação da psicologia
5.1. Base científica para intervenção social
5.2. Em 1962 a profissão foi reconhecida a partir da Lei nº 4119
5.3. Reconhecida pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP
5.4. Formação de profissionais especialistas nas questões psicológicas relacionadas à organização do trabalho pelo Instituto de Seleção e Orientação Profissional – ISOP
5.5. Desenvolvimento da modalidade clínica por meio do atendimento de crianças com queixas escolares através dos Serviços de Orientação Infantil
6. O processo de autonomização da psicologia
6.1. Esse processo foi determinado por fatores de ordem interna, como a necessidade de mais conhecimento acerca do fenômeno psicológico ainda no interior de outras áreas de saber ou campos de natureza prática (como a medicina e a educação) e, por outro lado, pela conquista do estatuto da psicologia como ciência autônoma na Europa e nos Estados Unidos.
6.2. Um novo Brasil através de uma pedagogia nova, a pedagogia científica.
6.2.1. Tem na psicologia sua mais importante fundamentação científica. Foi nesse quadro que a área ganhou condições não apenas para se afirmar como ciência autônoma, não mais produzida no interior de outras disciplinas, mas, sobretudo, para se desenvolver e se ampliar, fundamentada no que se produzia na Europa e nos Estados Unidos.
7. A psicologia como profissão regulamentada, ampliação dos campos de atuação e compromisso social.
7.1. Em 1964, o Decreto n° 53.464, de 21/01/64, regulamenta a Lei nº 4119/62.
7.2. Psicologia na educação, trabalho, clínica, saúde, jurídico, etc.
7.2.1. Passou a se preocupar com a maioria da população e seus problemas, com um claro compromisso social, tendo em vista a transformação da sociedade.