1. REDE INORGÂNICA (IA)
1.1. O que é?
1.1.1. Representa a **mudança de redes baseadas em cérebros humanos (carbono) para redes dominadas por IA (silício e algoritmos),** com processamento de informação e tomada de decisão por sistemas computacionais.
1.1.1.1. [...] estamos criando um tipo totalmente novo de rede de informação, sem pararmos para pensar em suas implicações. Enfatiza-se a mudança das redes de informação orgânicas para as inorgânicas [...]. (p.27)
2. POLÍTICA COMPUTACIONAL: as implicações da IA
2.1. Harari argumenta que a IA está criando uma nova "rede de informação inorgânica", baseada em chips de silício que operam de forma diferente dos cérebros humanos, com potencial para transformar a sociedade de maneiras que ainda estamos começando a compreender.
2.2. Implicações para a democracia
2.2.1. **Tomada de decisões**
2.2.1.1. Mesmo agora, no estágio embrionário da revolução da IA, os computadores já tomam decisões a nosso respeito — se nos farão um empréstimo, se nos contratarão para um emprego, se nos mandarão para a prisão [...]. (p.20)
2.2.2. **Debate público**
2.2.2.1. [...] Como as democracias podem manter um debate público sobre qualquer coisa — seja finanças, seja gênero —, se já não temos mais como saber se estamos falando com outro ser humano ou com um chatbot disfarçado de humano? (p.26)
2.2.3. Governabilidade
2.2.3.1. [...] como as democracias poderiam lidar com a rede inorgânica. Por exemplo, como políticos de carne e osso podem tomar decisões financeiras se o sistema financeiro é cada vez mais controlado pela IA e o próprio significado do dinheiro vem a depender de algoritmos inescrutáveis? [...]. (p.26)
2.3. Implicações para o totalitarismo
2.3.1. Vigilância e controle
2.3.1.1. [...] Na verdade, chineses, russos, americanos e todos os outros seres humanos estão conjuntamente ameaçados pelo potencial totalitário da inteligência não humana. Em vista da magnitude do perigo, a deveria ser de interesse para todos os IA seres humanos. Embora nem todos possamos nos tornar especialistas em IA, devemos ter em mente que ela é a primeira tecnologia na história capaz de tomar decisões e criar novas ideias por si mesma. [...]. (p.19)
2.3.2. Propaganda e manipulação
2.3.2.1. a Cortina de Silício poderia criar uma divisão não entre grupos humanos, mas entre todos os seres humanos e nossos novos senhores da IA. Onde quer que vivêssemos, poderíamos nos ver enclausurados numa rede de algoritmos insondáveis regendo nossa vida, remodelando nossa política e nossa cultura, e até reprogramando nosso corpo e nossa mente [...]. (p. 19)
2.3.3. Autonomia da IA
2.3.3.1. [...] Os ditadores, embora fiquem muito satisfeitos em se livrar de qualquer debate público, têm seus próprios receios perante a IA. As autocracias se baseiam em aterrorizar e censurar seus próprios agentes. Mas como um ditador humano há de aterrorizar uma IA, censurar seus processos insondáveis ou impedir que ela tome o poder para si mesma? (p.28)
3. NOÇÃO INGÊNUA DA INFORMAÇÃO
3.1. O que é?
3.1.1. Crença de que a informação é **inerentemente boa** e que **quanto mais informação tivermos,melhor**.
3.1.2. Crença **otimista** de que **mais informação leva à verdade e à sabedoria.**
3.1.2.1. *[...] a noção ingênua de informação dissemina uma visão claramente otimista das redes humanas em larga escala. (p.10 ) *
3.1.2.2. *A noção ingênua sustenta que, ao reunirem e processarem uma quantidade muito maior de informação do que os indivíduos conseguiriam, as grandes redes alcançam um melhor entendimento da medicina, da física, da economia e de vários outros campos, e com isso elas se tornam não só poderosas, como também sábias. (p.10) *
3.1.2.3. [...] a informação é algo essencialmente bom e que, quanto mais informação tivermos, melhor será. Com informação e tempo suficiente, iremos inevitavelmente descobrir a verdade sobre coisas que vão de infecções virais a preconceitos racistas, assim desenvolvendo não só nosso poder, mas também a sabedoria necessária para fazer um bom uso desse poder. (p.14)
3.1.2.4. *Essa noção ingênua justifica a busca de tecnologias da informação sempre mais poderosas e tem sido a ideologia semioficial da era do computador e da internet [...]. (p.15) *
3.2. Caso otimista
3.2.1. O caso **Goethe**
3.2.1.1. **A redução da mortalidade infantil.**
3.2.1.2. Goethe, o primogênito de sete filhos, foi o único a sobreviver à idade adulta, após a morte precoce de seus irmãos e, posteriormente, da irmã Cornelia aos 26 anos. Goethe teve cinco filhos, mas quatro morreram em decorrência da doença de Rhesus, causada pela incompatibilidade sanguínea entre ele e sua esposa, Christiane.
3.2.1.3. No passado, doenças como a **incompatibilidade de Rh** no sangue frequentemente levavam à morte de recém-nascidos. No entanto, com o avanço da medicina, a coleta e análise de dados sobre grupos sanguíneos possibilitaram o desenvolvimento de tratamentos eficazes, salvando inúmeras vidas.
3.3. Defende que
3.3.1. Mesmo quando há **erros ** ou **desinformação,** coletar e processar mais informação levará à verdade.
3.3.1.1. *[...] a noção ingênua reconhece que muitas coisas podem dar errado no caminho entre a informação e a verdade. [...] a informação às vezes leva ao erro, e não à verdade [...]. (p.13) *
3.3.1.2. *[...] o antídoto para a maioria dos problemas que enfrentamos na coleta e no processamento da informação é coletar e processar quantidades ainda maiores de informação [...]. (p.14) *
3.3.2. Com **informação** e **tempo suficientes,** a humanidade pode resolver problemas como doenças e preconceitos.
3.4. Questionamento e validade
3.4.1. As fontes alertam que, apesar da explosão de informação na era moderna, a humanidade **ainda enfrenta desafios como a crise ambiental e a ameaça da IA**.
3.4.1.1. *[...] apesar de toda essa informação circulando a velocidades estonteantes, a humanidade está mais próxima do que nunca da autoaniquilação. (p.15) *
4. VISÃO POPULISTA DA INFORMAÇÃO
4.1. O que é?
4.1.1. Uma **arma** utilizada em uma **luta constante pelo poder**.
4.1.1.1. *[...] o populismo vê a informação como uma arma*. (p.19)
4.1.2. Não **confiam nas instituições tradicionais**
4.1.2.1. [...] sustentam que todas as instituições tradicionais que ganham autoridade dizendo reunir informação e descobrir a verdade estão simplesmente mentindo. Ocupantes de cargos políticos, juízes, médicos, jornalistas da grande imprensa e especialistas acadêmicos são conluios de elite sem qualquer interesse na verdade e deliberadamentedifundem desinformação para obter poder e privilégios para si mesmos em detrimento do “povo”. (p.18-19)
4.1.2.2. [...] os populistas acusam essas mesmas instituições de trabalharem para promover os interesses das “elites corruptas” às custas do “povo”. Os atuais populistas também sofrem da mesma incoerência que, em gerações anteriores, afetava os movimentos radicais contra o sistema. Se a única realidade é o poder e se a informação é apenas uma arma, o que isso significa em relação aos próprios populistas? Estão eles também interessados apenas no poder, e estão eles também mentindo para nós a fim de ganhar poder? (p.23)
4.2. Não existe verdade objetiva
4.2.1. o populismo postula que não existem verdades objetivas e que cada um tem “sua própria verdade”, que brande para derrotar os rivais [...]. (p.19)
4.2.2. [...] Segundo essa visão de mundo, o poder é a única realidade [...]. (p.19)
4.2.3. [...] Todas as interações sociais são lutas pelo poder, porque a única coisa que interessa aos seres humanos é o poder. A alegação de se interessar por alguma outra coisa — como a verdade ou a justiça — não passa de uma artimanha para ganhar poder [...]. (p.19)
4.3. Os populistas são antimarxistas ou marxistas?
4.3.1. Claro que é improvável que populistas de direita como Trump e Bolsonaro tenham lido Marx ou Foucault; aliás, eles se apresentam como ferrenhos antimarxistas. Também se diferenciam muito dos marxistas nas políticas que sugerem para campos como a tributação e a previdência social. Mas sua noção básica da sociedade e da informação é surpreendentemente marxista, vendo todas as interações humanas como uma luta de poder entre opressores e oprimidos [...]. (p.20)
4.3.2. **Trump,** em seu discurso de posse (2017), alegou que uma "elite" em Washington se beneficiava do governo enquanto o povo arcava com os custos. Essa retórica, comum entre populistas, reforça a narrativa de uma luta de poder entre o "povo puro" e a "elite corrupta", como descrito pelo cientista político Cas Mudde
4.3.3. **Movimentos antivacina** frequentemente ignoram dados científicos e o consenso da comunidade médica, alegando que as vacinas são parte de uma conspiração das elites para controlar a população. Eles propagam "verdades" alternativas baseadas em desconfiança e medo, em vez de evidências científicas.
4.4. Como a informação é usada?
4.4.1. A informação é **distorcida ** e **manipulada ** para servir a uma agenda política, deslegitimando fontes confiáveis e corroendo a confiança em instituições essenciais para o funcionamento da sociedade.
4.5. Visão Populista vs Noção Ingênua da Informação?
4.5.1. A visão populista da informação a vê como uma arma em lutas de poder, enquanto a noção ingênua a considera um caminho para a verdade. O populismo questiona a objetividade da informação e a confiabilidade das instituições que a produzem.
5. PAPEL DA MITOLOGIA NA CONSTRUÇÃO DAS REDES DA INFORMAÇÃO
5.1. Fornece **narrativas **e **símbolos** que unem as pessoas em torno de valores e crenças compartilhados, criando laços de identidade e coesão social. Atua como uma "cola" que une os indivíduos em torno de crenças e valores.
5.1.1. **Bíblia:** As histórias da Bíblia foram **fundamentais para a construção da rede de informação da Igreja Cristã.** Permitiu a expansão do cristianismo por diferentes culturas e continentes, **criando uma das maiores e mais duradouras redes de informação da história.**
5.1.2. **Nacionalismo:** No século XX, ideologias nacionalistas utilizaram mitos sobre a história, a cultura e a identidade de uma nação para mobilizar populações e construir estados-nação poderosos. A **Alemanha nazista,** por exemplo, se apoiou em **mitos sobre a superioridade da raça ariana** e a necessidade de expansão territorial para construir uma **rede de informação baseada no ódio e na violência.**
5.2. **Mitologia ** e **Burocracia**
5.2.1. EQUILÍBRIO:
5.2.1.1. A construção de redes de informação complexas, como impérios, igrejas e estados modernos, **não se baseia apenas na mitologia.** **A burocracia também é essencial,** garantindo a organização, a administração e a difusão da informação através de leis, códigos, registros e procedimentos padronizados.
5.2.1.2. buscar um equilíbrio com outras forças, como a **burocracia ** e a **autocorreção,** garante a **estabilidade,** a **justiça ** e a **busca pela verdade.**
5.2.2. DESEQUILÍBRIO
5.2.2.1. [...] criadores de mitos e burocratas tendem a tomar direções distintas. As instItuições e as sociedades são muitas vezes definidas pelo equilíbrio que conseguem encontrar entre as necessidades conflitantes de seus criadores de miTos e seus burocratas. A própria Igreja cristã se dividiu em Igrejas rivais, como a católica e a protestante, que chegaram a equilíbrios diferentes entre mitologia e burocracia. (P.24)
6. MECANISMOS DE AUTOCORREÇÃO
6.1. O que são?
6.1.1. são processos que **permitem a identificação e a correção de erros, distorções e abusos dentro de uma rede de informação.** Eles **asseguram a confiabilidade da informação e protegem a rede de influências corruptas.**
6.2. Consequencias da falta de Autocorreção
6.2.1. Gera **corrupção ** , **abuso de poder** , **proliferação de notícias falsas,** **manipulação de dados** etc.
7. REDES DISTRIBUÍDAS vs REDES CENTRALIZADAS
7.1. **Redes distribuídas,** como as **democráticas,** permitem a circulação livre da informação em vários veículos de comunicação. Já as **centralizadas,** comuns em **regimes totalitários,** controlam o fluxo da informação.
7.1.1. **Sistemas democráticos,** onde a liberdade de imprensa e a multiplicidade de partidos políticos permitem a circulação da informação por diversas fontes independentes.
7.1.2. **Sistemas totalitários,** como a União Soviética, onde o Estado controlava os meios de comunicação e censurava informações que desafiassem a ideologia oficial.
7.2. **Vantagens** e **Desvantagens**
7.2.1. Ambas as estruturas apresentam vantagens e desvantagens
7.2.2. **Redes distribuídas** podem ser **mais resistentes à manipulação e à censura,** mas também podem ser **mais caóticas e propensas à desinformação.** A proliferação de notícias falsas nas redes sociais ilustra esse desafio.
7.2.3. **Redes centralizadas** podem ser **mais eficientes na disseminação de informações importantes,** como alertas de saúde pública, mas também são **mais suscetíveis ao abuso de poder e à supressão de vozes dissidentes.**
7.3. A Ascensão da IA e o Futuro das Redes de Informação
7.3.1. pode ser utilizada tanto para **fortalecer democracias,** através da **análise de dados** e da **detecção de desinformação**.
7.3.2. quanto para **reforçar regimes totalitários,** através da **vigilância em massa** e da **censura algorítmica.**