DAHL, Robert. A Democracia e seus Críticos. (p. 20-29)por José Jance Marques
1. Sabemos, é claro, diz o ateniense, que somente na associação com outros podemos ter a esperança de nos tornar plenamente humanos ou, certamente, de consumar nossas qualidades de excelência como seres humanos. A associação mais importante na qual cada um de nos vive é a nossa cidade. É da nossa natureza sermos seres sociais.
2. Sem repartir a vida na pólis ninguém poderia jamais desenvolver as virtudes e qualidades que distinguem os homens dos animais.
3. Um bom homem requer não apenas uma pólis, mas uma boa pólis. Uma boa cidade é aquela que produz bons cidadãos, promove sua felicidade e os encoraja a agir de forma correta. Ninguém pode ser verdadeiramente feliz a não ser que seja também virtuoso.
4. A virtude, a justiça e a felicidade são companheiras. Uma boa pólis deve também ser justa. Um bom cidadão é aquele que, nos assuntos políticos, sempre busca o bem comum (melhor virtude).
5. As virtudes cívicas devem também ser fortalecidas pelas virtudes da constituição e das leis da cidade, bem como por uma ordem social que torne a justiça alcançável.
6. Na melhor pólis os cidadão são virtuosos, justos e felizes. E porque cada um busca o bem de todos e a cidade não é dividida em seguimentos de ricos e pobres, todos os cidadãos podem viver juntos em harmonia.
7. Não quero dizer que tudo que estou afirmando seja verdade a respeito de Atenas, quero dizer que isso é um modelo. Para ser a melhor pólis, deve assim como Atenas, ser uma pólis DEMOCRÁTICA.
8. O que é a pólis senão um lugar onde os cidadão podem viver uma vida plena sem estar sujeitos ao chamado dos deveres cívicos a todo instante?
9. O bem de cada um pode não ser o mesmo bem dos outros, entretanto, nossas diferenças nunca devem ser tão grandes a ponto de não podermos concordar quanto ao que é melhor para a cidade. Uma pólis não pode ser dividida em duas cidades, pois isso geraria o conflito que por fim suplantaria o bem público.
10. Uma democracia deve ter um tamanho modesto, para que todos os homens possam se reunir em assembleias e para que todos se conheçam. Pois como pode ser uma democracia a não ser que todos os seus cidadãos possam se reunir com frequência a fim de exercer seu domínio soberano sobre os assuntos da cidade? Também nos alternamos administrando o trabalho da cidade. Para nós, a democracia não é só tomar decisões, mas também servir nos cargos públicos.
11. Assim uma pólis nunca poderia ser verdadeiramente uma pólis democrática se seu corpo de cidadãos e seu território fossem maiores que os nosso. Apesar disso nos tornar mais vulneráveis é um risco que devemos correr.
12. Em suma, Péricles disse que nos como cidade somos a escola Hélade. Nossos homens públicos cuidam da cidade e da sua vida particular.
13. Esse ideal democrático é uma visão politica tão grandiosa que é quase impossível não nos sentirmos atraídos por ela. Na visão grega da democracia a vida politica é uma extensão da pessoa e felicidade, virtude e justiça caminham juntas.
14. Duas coisas precisam ser ditas acerca dessa visão: como uma visão de uma ordem social ideal ela não deve ser confundida com a realidade política grega; também não se pode julgar a importância dessa visão sem uma compreensão de como ela é radicalmente diferente da ideias e práticas democráticas desde o século XVIII.
15. Na visão grega uma ordem democrática teria de satisfazer essas 6 condições:
15.1. 1. Os cidadãos devem ser harmoniosos de modo a compartilhar um sentindo de um bem geral que não esteja em contradição evidente com os interesses pessoais.
15.2. 2. Os cidadãos devem ser notavelmente homogêneos ou do contrario gerariam conflitos e divergências quanto ao bem comum.
15.3. 3. O corpo de cidadão deve ser bem pequeno, o que ajudaria a evitar a heterogeneidade; faria com que os cidadão conhecessem melhor a sua cidade e seus concidadãos e possibilitaria as reuniões em assembleia.
15.4. 4. Os cidadãos devem ser capazes de se reunir e decidir de forma direta sobre as leis e os cursos da política. Os gregos achavam difícil imaginar uma democracia representativa.
15.5. 5. A participação dos cidadãos não se limitava à ida em assembleias mas também a atuação em cargos públicos.
15.6. 6. A cidade- Estado deve ao menos idealmente permanecer autônoma politicamente, econômica e militarmente.
16. Cada uma dessas condições representa uma dura contradição as realidades democráticas de hoje. Os cidadão são bastante heterogêneos, o conflito político é marca registrada, o que prevalece é o governo representativo, os cidadãos não ocupam mais os cargos públicos. Se um cidadão ateniense estivesse entre nos ele afirmaria que o que temos hoje não é de modo algum uma democracia.