1. 2. Por uma abordagem enunciativo-discursiva
1.1. Embora o paradigma bakhtiniano se contraponha a tendências redutoras da sistematização da língua, não desconsidera a importância de um sistema diferenciado de signos para compreender a complexidade enunciativa de situações particulares.
1.1.1. Bakhtin foi o percursor de uma teoria enunciativo-discursiva, que vê a linguagem em atividade. Ele via a palavra como o modo mais puro e sensível de transformações sociais.
1.1.1.1. Então, o enunciador do discurso tem uma atitude responsiva ativa, isso quer dizer que este enunciador produz signos que será compreendido por um outro, e este outro interpretará de acordo com suas próprias experiências.
1.1.1.1.1. Aquilo que é enunciado deixa de ser linguístico estrito, para ser linguístico-ideológico-dialógico, no sentido de apresentar signos que se formam como enunciados e que implicam uma atitude ativa responsiva do sujeito a qual desencadeará outros enunciados.
1.2. Porém, Segundo Bakhtin, os signos existem ampliadamente de forma ideológica dentro do discurso.
2. Eixos: Dialogismo e Plurilinguismo
2.1. A teoria dialógica do discurso configura-se como uma dimensão filosófica no trato do objeto de reflexão.
2.2. Dialogismo é pressupor um "princípio" uma "propriedade polivalente"; o princípio dialógico traz em seu escopo uma abordagem de "não finalização" e do "vir-a-ser", configurando assim um princípio da "inconclusividade", da preservação da heterogeneidade, da diferença, da alteridade (BAKHTIN, 1997 [1929]).
2.3. 1. Dialogismos e Relações de sentido
2.3.1. Bakhtin via a língua como algo vivo, que está em movimento, e não algo específico somente da linguística (BAKHTIN, 1997 [1929], p. 181).
2.3.2. Bakhtin propõem assim uma nova disciplina: a metalinguística, como um estudo da vida do discurso.
2.3.2.1. A linguagem somente tem vida na comunicação dialógica, comunicação de sentidos.
2.3.2.1.1. A linguagem constitui uma abordagem social, um "compartilhar com o outro".
2.3.2.1.2. O sujeito e os sentidos constroem-se discursivamente nas interações verbais na relação com o outro.
2.3.2.2. O objeto do discurso, por assim dizer, já foi falado, controvertido, esclarecido e julgado de diversas maneiras, é o lugar onde se cruzam, se encontram e se separam diferentes pontos de vista, visões de mundo, tendências. (BAKHTIN, 1992 [1952-1953] ,p. 319)
2.3.2.3. O objeto do discurso é o ponto de intersecção em que se encontra a diferença de opiniões, de sentido.
3. 3. Plurilinguismo e vozes discursivas
3.1. Podemos perceber que a concepção de linguagem desenvolvida na teoria bakhtiniana prima pela dialogicidade, pela dinamicidade. Ao trazermos para reflexão o plurilingüismo, passamos a enfatizar a dimensão do “plural”, do “pluralismo”, também como pertencente a linguagem.
3.2. O pluralismo lingüístico, também chamado de heteroglossia e de plurilingüismo, em especial o plurilingüismo dialogizado, que “é o verdadeiro meio da enunciação” (BAKHTIN, 1998 [1934-1935], p. 82), aproxima-se, assim, da plurivocidade, isto é, da tessitura de vozes sociais que constitui o espaço enunciativo-discursivo.
3.2.1. Pelo fato da linguagem ser algo social, rompe com a ideia da língua como algo estático ou de que há uma linguagem única e universal. A linguagem é heterogênea e dinâmica.
3.2.2. O plurilinguismo pressupões a enunciação de diferentes vozes que se cruzam, criando assim diferentes significados, diferentes estruturas enunciativas.
3.2.2.1. A língua se constrói em vozes sociais que se resvalam, em diferentes dialetos, jargões profissionais, linguagens de gerações familiares. Há linguagens de momentos, de lugares, transitórias, que possuem estruturas e finalidades próprias a determinados contextos. A linguagem, portanto, está em movimento.
3.2.2.2. Com isso, devemos observar que a linguagem sempre será dialógica, isso quer dizer que sempre ressoarão outros discursos em sua enunciação. Essa noção sobre a linguagem como "plural" é uma característica fundamental da concepção do plurilingüismo em Bakhtin.
4. 4. A linguagem como atividade responsiva: observando uma situação concreta
4.1. Na situação descrita no texto, vemos os conceitos lidos anteriormente em ação. A situação mostra uma empregada, com o seu advogado e a patroa, sem advogado, tentando conciliar um acordo sobre divergências entre a patroa e a empregada, em relação ao salário.
4.1.1. Percebe-se no discurso das partes envolvidas atitudes diferenciadas. A atitude da Patroa em mostrar-se pertencente aos padrões sociais de esposa, mulher, preocupada em pagar a empregada; e a posição da juíza, que dirige-se ao advogado da empregada enfatizando a palavra "doutor" e o tratamento diferenciado que dá a ele comparado com ao que dá para a patroa.
4.1.1.1. A situação descrita enfatiza a dinâmica que há dentro da língua e como os discursos estão impregnado de ideologias. Percebemos os diferentes extratos em que a língua circula e as diferentes maneiras que ela se desenvolve.