DESCOBRIR O CORPO: uma história sem fim

Descobrir o corpo: uma história sem fim

Get Started. It's Free
or sign up with your email address
DESCOBRIR O CORPO: uma história sem fim by Mind Map: DESCOBRIR O CORPO:   uma história sem fim

1. Neles, o culto ao corpo começou a soar muito menos como moda ou um signo de modernidade, e muito mais como uma necessidade básica, ou como a única opção de garantia de um mínimo de qualidade de vida. Uma questão ganha importância: como andar a pé, correr, andar de bicicleta, nadar, em suma, explorar as capacidades do corpo em favor de sua saúde e prazer, morando em cidades cada vez menos solidárias ao pedestre e mais adaptadas a automóveis? Por vezes, não restava alternativa senão os clubes e outros locais fechados, privados, nos quais a natureza tende a ser cada vez mais reconstruída artificialmente: no lugar de lagos e rios, piscinas e cascatas artificiais, no lugar de florestas, áreas verdes.

2. As dimensões sociais do corpo foram diversamente analisadas pela etnologia e pela antropologia e nomes como os de Maurice Leenhardt, B. Malinowski, Roger Bastide, Margaret Mead, Gregory Bateson, C. Lévi-Strauss figuram entre aqueles pesquisadores preocupados em compreender os sentidos culturais dos gestos e da oralidade

3. DO CORPO PERFOMÁTICO AO CORPO INCERTO, ESTRESSADO E TURBINADO

4. À primeira vista o corpo é o que há de mais concreto e natural ao homem.

5. Cada cultura tem seu corpo assim como ela possui a sua língua (De Certeau, 1982, p. 180).

6. Modificações do corpo

7. Da ornamentação e das tatuagens utilizadas no Neolítico à cosmética e às cirurgias estéticas de nossos dias, as metamorfoses corporais provocadas pelo ser humano serviram aos mais diferentes fins:

8. Século XX: - o corpo foi redescoberto pelo higienismo redentor e pelos combates contra a suposta degenerescência das raças; - proliferação das colônias de lazer, pela expansão do cinema, do escotismo e da emergência das férias pagas; - seduções da publicidade e da televisão e, mais recentemente, pelos movimentos de liberação sexual, pelos novos ritmos musicais, as diferentes tendências da moda, a massificação da pornografia e, enfim, o advento da biotecnologia.

9. A VOGA DO CORPO: Há séculos a medicina, por exemplo, vem se dedicando ao estudo das doenças e desvendando os mistérios do organismo humano

10. Todavia, depois dos movimentos de liberação da década de 60, houve uma preocupação cada vez mais assídua e insistente para com a saúde e o bem-estar corporal.

11. Na universidade, longe de se limitar ao campo da medicina e da biologia, o corpo conquistou o interesse das pesquisas de psicólogos, sociólogos, historiadores e outros profissionais das ciências humanas.

12. Para Jean Baudrillard ( 1972), por exemplo, vivia-se numa época de intensa "positividade do corpo"; Para Jean-Marie Brohm ( 1975) este tema já era uma " moda hegemônica "; Na história, Prost inseria o corpo num dos aspectos mais relevantes dos estudos sobre a vida privada (1987, p. 102).

13. SEMPRE REDESCOBERTO, NUNCA COMPLETAMENTE REVELADO

14. A proliferação acelerada de produtos, tecnologias, terapias e saberes visando ao fortalecimento e ao embelezamento do corpo coexistia com tentativas de transformá-lo em mercadoria, em objeto disponível à manipulação industrial e ao comércio global.

15. Georges Vigarello é um dos pesquisadores dedicados à compreensão de uma parte desta tendência histórica: confirmando aquilo que François Dagognet já havia anunciado acerca do conhecimento do corpo, Vigarello lembra, em seus diferentes estudos, o quanto a tarefa de investigar o corpo é infinita, um constante caminhar no escuro, destinado a enfrentar inúmeros paradoxos

16. Naqueles anos, enquanto Michel Foucault pesquisava a produção do corpo por meio das disciplinas e dos cuidados de si; Jean-Marie Brohm, por exemplo, sublinhava as relações entre esporte e interesses políticos e assinalava o quanto a cultura do corpo se tornava rapidamente uma caricatura submetida aos interesses do mercado; Jean Baudrillard já havia escrito que "toda a história atual do corpo é aquela de sua demarcação", considerando a rede de marcas e de signos que o esquadrinham, alertando para a transformação da liberação do corpo numa soft pornografia (Brohm, 1986, p. 7 ; Baudrillard, 1970, p. 204). Como Marcuse, Baudrillard sublinhava as formas de alienação próprias aos momentos de lazer e de cuidados com o corpo, enquanto Gilles Lipovetsky investigava as práticas e representações do corpo, num diálogo com autores americanos, tais como Christopher Lasch e Richard Sennett, demonstrando que nosso interesse por este assunto nunca é livre ou espontâneo, pois responde a imperativos sociais e a tendências culturais, tais como aquela do fim de uma sociedade calcada no dever e nas normas de cunho moral.

17. DA LIBERAÇÃO MORAL AO CULTO DA PERFORMANCE

18. Maio de 68 havia valorizado a ruptura em relação às regras de condutas misóginas ou devotas à pureza sexual e à uma moral do sacrifício. A partir dos anos 80, as imagens publicitárias da juventude anunciavam uma tendência distinta, com finalidades coerentes com os interesses econômicos globalizados

19. Mais do que liberação moral e sexual, seria necessário liberar o corpo de seu patrimônio genético, incluindo as rupturas de gênero e de espécie;

20. Para alguns, não se tratava apenas de obter um corpo liberado sexualmente, mas, principalmente, de fabricar um corpo bem adaptado aos progressos e sonhos tecnocientíficos contemporâneos. E, caso o corpo não acompanhasse tal ambição, ele correria o risco de se tomar obsoleto.

21. O IMPERATIVO DA COMUNICAÇÃO

22. Vários cultos ao corpo começaram a se sustentar menos na culpa e na disciplina e mais no espírito de iniciativa e na necessidade de se comunicar. "É preciso ter iniciativa", grande conquista e grande obrigação atual.

23. É preciso se comunicar e possuir um corpo, uma casa, um carro, ideias, parceiros, objetos pessoais e espaços que façam o mesmo: comuniquem! Mesmo que seja para comunicar o incomunicável ou aquilo que já é massivamente comunicado.